Dimensões europeia e ibero-americana do Iberifier são “trunfo” no combate à desinformação

Lisboa, 15 fev 2023 (Lusa) – O coordenador geral do Observatório Ibérico de Media Digitais (Iberifier), Ramón Salaverría, destacou hoje a importância da dimensão europeia e ibero-americana do projeto no combate a um fenómeno de caráter transnacional como a desinformação.
“A contribuição não só do Iberifier, mas do projeto completo europeu [o Observatório Europeu de Media Digitais (EDMO), ao qual o Iberifier está associado] é muito importante, porque um dos elementos que ficou claro nos últimos anos é que a desinformação não é um fenómeno local, nem nacional, é um fenómeno transnacional”, afirmou o também professor catedrático da Universidade de Navarra e diretor do Centro de Estudos da Internet e da Vida Digital.
“Portanto, para se entender quais são as campanhas de desinformação, é preciso ter uma dimensão transnacional para detetar perigos que vêm de outros lugares e, ao mesmo tempo, alertar outros países sobre situações que estão a ocorrer e que podem chegar a outras latitudes”, acrescentou Ramón Salaverría durante um ‘webinar’ para apresentação dos primeiros resultados para Portugal do Iberifier.
Promovido pela Comissão Europeia e associado ao EDMO, o Iberifier é um observatório de media digitais em Portugal e Espanha cujo objetivo é o combate à desinformação.
O projeto é coordenado pela Universidade de Navarra, Espanha, mas tem como principal parceiro o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. No total, integra 12 universidades, cinco organizações de verificação e agências de notícias (entre as quais a agência Lusa) e seis centros de investigação multidisciplinares.
Considerando que o estudo da desinformação é “uma questão não apenas relevante, mas também atual”, o coordenador geral do Iberifier recordou que, “nos últimos anos, por conta de situações como a pandemia e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia, há contextos onde a desinformação circula de uma maneira muito intensiva e com efeitos sociais muito importantes”.
“Estas são situações muito críticas, devido aos perigos derivados de conteúdos falsos, deliberadamente disseminados por parte de distintas organizações, países, pessoas e ideologias que têm vontade de influir na opinião pública”, salientou.
Neste contexto, Salaverría destacou a importância não só da “dimensão europeia”, mas também da “dimensão ibero-americana” do observatório ibérico: “A língua portuguesa e a língua espanhola são faladas por mais de 700 milhões de pessoas no mundo e essa dimensão praticamente global das nossas línguas faz com que os conteúdos circulem de uma maneira muito intensiva”, enfatizou.
O coordenador do Iberifier avançou que as pesquisas desenvolvidas pelo observatório “estão a identificar quais são as formas que adota a mentira, não unicamente nas redes digitais, mas também noutro tipo de plataformas mediáticas mais tradicionais”.
Outra das vertentes do trabalho do observatório é a “pesquisa de tipo tecnológico”, já que o projeto integra “organizações que se dedicam especificamente à investigação relacionada com computação e inteligência artificial para tratar de neutralizar as campanhas de desinformação”.
“Evidentemente, a tecnologia apenas não é capaz de neutralizar essas campanhas, mas é preciso conhecer e explorar novas tecnologias para enfrentar este problema”, sustentou.
Finalmente, Ramón Salaverría apontou a “dimensão estratégica” do observatório, que, a partir do conhecimento dos dados, pretende “desenvolver inteligência e conhecimento que permita tomar decisões responsáveis”.
Na sua intervenção, o coordenador geral do Iberifier apontou também a importância da análise do impacto da desinformação na própria industria mediática: “A desinformação produz um descrédito dos atores públicos, entre eles, obviamente, também os media jornalísticos, mas, ao mesmo tempo, é um tempo de oportunidades e de transformações. Há organizações dedicadas à verificação informativa, unidades de verificação dentro dos media e é uma oportunidade de repensar qual é o papel dos media neste contexto”, considerou.
Também orador no ‘webinar’, o investigador principal do Iberifier e professor catedrático no ISCT–IUL Gustavo Cardoso disse viver-se atualmente um “contexto de crise comunicacional”.
“Quando olhamos para o mundo, estamos sistematicamente a ser lembrados que se alteraram as nossas formas de comunicar, mas também estamos constantemente a verificar que o jornalismo também tem dificuldade em se adaptar a esta forma de comunicação”, afirmou.
Falando de uma “desinformação própria da comunicação em rede de hoje em dia”, por oposição à “desinformação própria da comunicação de massas das sociedades industriais do século passado”, Gustavo Cardoso explicou que o Iberifier se propõe “tentar compreender como é que o jornalismo está a lidar com a crise comunicacional e com a desinformação em simultâneo” que marcam o contexto atual.
“Não vamos erradicar a desinformação com este projeto, certamente, mas essa também é uma tarefa impossível”, admitiu, salientando que o objetivo é “compreender um pouco melhor o que vai acontecer nos próximos tempos, como é que o jornalismo responde e como é que as pessoas lidam e olham para a desinformação, para, por um lado, se construir conhecimento e, por outro lado, boas práticas para lidar com a influência da desinformação”.
“Este não é um projeto para erradicar a desinformação da Península Ibérica nem do mundo falante espanhol nem do mundo falante português, é um projeto para compreendermos a desinformação no quadro de comunicação em rede e como é que podemos agir sobre ela”, concluiu.
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