A apresentar resultados para:
Ordem
Mais Recentes
Mais Recentes Mais Antigas
Data
Tudo
Na Última Hora Últimas 24 Horas Últimos 7 Dias Último Mês Último Ano Tudo Datas específicas

Analistas alertam que retórica homofóbica coloca vidas em risco no Quénia e Uganda

Nairobi, 31 mai 2023 (Lusa) - Analistas alertaram hoje que as leis anti-homossexuais no Quénia e no Uganda desencadearam uma onda sem precedentes de desinformação que alimenta uma retórica homofóbica, transmitida de forma imprudente, que pode colocar vidas em risco.


"Os políticos [no Quénia e no Uganda] aproveitam a homofobia populista para garantirem que continuam a ser importantes para as massas", disse Patrick Gathara, analista político e jornalista baseado em Nairobi, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).


As redes sociais na África Oriental estão cheias de afirmações falsas sobre o assunto: uma afirmava que o Presidente do Quénia havia pedido o assassinato de homossexuais, outra que os Estados Unidos ordenavam que o Uganda legalizasse a homossexualidade.


Num continente onde a homossexualidade continua a ser um tabu, "uma posição anti-LGBTQ [sigla para designar pessoas lésbicas, gays, bissexuais e outras tendências sexuais] permite ser aceite pelos eleitores", explicou o mesmo analista.


Na África Oriental, pesquisas mostraram que um grande número de pessoas vê o estilo de vida LGBT+ como uma ameaça aos valores tradicionais.


O Uganda anunciou esta segunda-feira que o Presidente Yoweri Museveni promulgou uma lei, considerada das mais repressivas do mundo, prevendo penas pesadas e até pena de morte para "homossexualidade agravada", mesmo depois de alterada uma versão ainda mais dura.


As relações entre pessoas do mesmo sexo também são consideradas crime pela legislação da era colonial no vizinho Quénia, cujo Presidente, William Ruto, disse recentemente ser uma importação ocidental incompatível com os "costumes, tradições, cristianismo e islamismo" do país.


As condenações são raras e, apesar da criminalização, grupos de direitos gay são autorizados no Quénia, ao contrário de países vizinhos, como a Somália, mas um projeto de lei para criminalizar esta orientação sexual está atualmente no Parlamento, e algumas falsas informações 'online' afirmam que já foi aprovado.


O assassinato, em janeiro, de um ativista LGBT+, o queniano Edwin Chiloba, provocou protestos nacionais e internacionais e, embora seja apontado crime passional, o caso evidenciou o aumento da homofobia na região.


Na 'internet', algumas pessoas afirmaram que o próprio Presidente Ruto havia pedido a morte dos homossexuais, o que foi negado, e uma decisão do Supremo Tribunal, em fevereiro, também alimentou o discurso anti-LGBT+ no Quénia.


A mais alta instância judicial do país decidiu que o grupo chamado Comissão Nacional de Direitos Humanos de Gays e Lésbicas deveria ter permissão para se registar como organização não-governamental (ONG), uma medida que enfureceu os conservadores.


Num gesto raro, o Presidente Ruto e seu principal opositor, Raila Odinga, criticaram a decisão, argumentando que o Quénia era uma nação religiosa e que o tribunal havia excedido as suas prerrogativas.


Um vídeo apareceu nas redes sociais no Quénia e no Uganda supostamente mostrando o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, denegrindo homossexuais, algo que o serviço de verificação da France-Presse rapidamente mostrou ser informação falsa.


Líderes políticos e religiosos "usam a desinformação para distorcer a realidade e isso coloca a vida das pessoas LGBTQ em risco", disse Kevin Mwachiro, ativista dos direitos gay queniano.


"As mentiras permanentes tornam as pessoas homossexuais incompreendidas. Eles precisam ser apoiados, não perseguidos", sublinhou.


A comunidade LGBT+ também sofre com a falta de proteção legal essencial no Uganda, além da desinformação desenfreada.


Um exemplo foi um vídeo, que se tornou viral, supostamente de um porta-voz da Casa Branca ameaçando retirar a ajuda dos EUA se o Uganda não legalizasse a homossexualidade.


Na verdade, o 'clip' -- que teve milhares de partilhas em plataformas como o TikTok e Facebook -- era de 2014, quando Washington cortou brevemente a ajuda financeira em retaliação ao projeto de lei anti-gay anterior do Uganda, que foi entretanto modificado e suavizado antes de promulgado esta semana.


Neste contexto, os especialistas consideram improvável que o discurso homofóbico diminua no continente.



ANP // JH


Lusa/fim