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Primeiras publicações a sugerir ataque russo no “apagão” com origem provável em Portugal

epa11582263 Power cables are pictured in the city after months of constant power from state power utility Eskom as Q2 Grow Domestic Produce has risen by 0.4 percent, in Johannesburg, South Africa, 03 September 2024. South Africa’s economy expanded in the second quarter as a rebound in the electricity and manufacturing sectors boosted output. The quarter was entirely without load shedding, which has now been suspended for more than 150 days. As a result, the electricity, gas and water supply industry grew by 3.1% over the quarter - the sharpest increase since 2008.  EPA/KIM LUDBROOK

Lisboa, 07 mai 2025 (Lusa) - As primeiras publicações nas redes sociais a sugerir que o apagão elétrico que deixou a Península Ibérica às escuras no dia 28 de abril teria sido provocado por um ciberataque russo poderão ter tido origem em Portugal, conclui uma investigação.

A hipótese é levantada por um grupo de investigadores do Medialab do ISCTE, num relatório divulgado hoje, em parceria com a Comissão Nacional de Eleições (CNE), para monitorizar a desinformação durante a campanha para as eleições legislativas de 18 de maio.

No relatório dedicado ao corte generalizado no abastecimento elétrico que, na semana passada, afetou Portugal e Espanha, os investigadores sublinham que "a ausência de comunicação institucional eficaz nas primeiras horas contribuiu para um vácuo informativo" a analisam uma das principais teorias veiculadas, que atribuíam o apagão a um ciberataque russo.

Esta narrativa começou a circular nas redes sociais portuguesas por volta das 11:50, cerca de 20 minutos após o início do apagão, em publicações que reproduziam uma alegada notícia da CNN Internacional com declarações atribuídas à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

A origem da publicação é incerta, mas a análise feita pelos investigadores do Medialab indica que a difusão inicial poderá ter ocorrido em Portugal, com uma versão em português que depois serviu de base para outras traduções, incluindo em russo.

Pelas 13:55, começam também a surgir as primeiras reações ambíguas de 'media' russos, como o BFM, que misturavam elementos noticiados e rumores não verificados, com sugestões de ataque coordenado e sabotagem transnacional.

De acordo com o relatório, a informação era replicada no WhatsApp e em canais do Telegram associados a ambientes pró-russos, alcançando logo nas primeiras horas dezenas de milhares de visualizações.

Nos dias seguintes, grupos de ciberativistas pro-russos reivindicaram responsabilidade pelo suposto ataque, associando alegadas provas de ataques de negação de serviço distribuído.

"No entanto, especialistas em cibersegurança consultados descartaram qualquer relação com o apagão, sublinhando que estes grupos não possuem a capacidade operacional para causar falhas na infraestrutura elétrica", refere o relatório, que acrescenta que estes grupos aproveitaram o apagão para tentar capitalizar-se mediaticamente.

Além desta, circularam outras teorias para tentar explicar o corte energético, cuja origem ainda não é conhecida, e os investigadores referem até mensagens disseminadas que, por outro lado, apresentavam um 'spin' ideológico que favorecia a Rússia.

No Telegram, circularam publicações que insinuavam que o apagão seria um "teste de resiliência" promovido pela NATO, ou uma operação de engenharia social para justificar uma escalada militar futura.

Outra teoria associava a falha energética às políticas ambientais de transição energética, ou às sanções contra a Rússia e à degradação da infraestrutura europeia, e o relatório cita algumas das mensagens partilhadas neste sentido, com indícios de tradução automática ou de terem sido criadas com recurso à inteligência artificial.

Ao longo daquela semana, a maioria das publicações relacionados com o apagão foram partilhadas no X (58,21%) e no Facebook (33,68%), seguindo-se o Instagram (6,03%), TikTok e Reddit (ambos 1,04%).

Além do motor de inteligência do X, com respostas a perguntas dos utilizadores a perguntas sobre as várias narrativas, as contas dos meios de comunicação foram aquelas que mais publicaram sobre os conteúdos desinformativos relacionados com o apagão, sobretudo para os desconstruir.

A esmagadora maioria das publicações (81%) feitas naquele período são consideradas neutras, mas aquelas que aparentam acreditar ou propagar essas narrativas são mais do dobro daquelas que as desmentem (12% contra 6%) e chegaram a muitas mais pessoas em comparação com a verificação dos factos.

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o MediaLab, do ISCTE, em parceria com a agência Lusa, estão a monitorizar as redes sociais para identificar e medir o impacto da desinformação na campanha das legislativas de maio, prolongando-se até 24 de maio.

O Medialab produz semanalmente relatórios sobre o fenómeno da desinformação.

 

Mariana Caeiro