Brasil/Eleições: Onda de desinformação nas redes sociais marca presidenciais
Redação, 28 out 2022 (Lusa) -- A avalanche de notícias falsas e teorias da conspiração regressou intensivamente na campanha para as eleições presidenciais brasileiras do próximo domingo, motivando uma resposta dura por parte das autoridades judiciais.
Analistas consideram que a desinformação é motivo de preocupação no Brasil, sobretudo porque a contagem dos votos vai ser renhida e qualquer voto pode fazer a diferença para a vitória nas urnas.
O ex-presidente e candidato do Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda), Luiz Inácio Lula da Silva, lidera todas as sondagens, mas apenas com 4,6 pontos, em média, à frente do atual Presidente, Jair Bolsonaro (Partido Liberal, extrema-direita), que poderá obter resultados maiores que os previstos pelas sondagens, motivo pelo qual alguns analistas acreditam que é preciso esperar pelo apuramento final.
As fábricas de 'fake news' estão cada vez mais a trabalhar a toda a velocidade, com o objetivo de tentar obter o maior número possível de votos e, ao mesmo tempo, retirá-los ao adversário.
Uma das notícias falsas que os apoiantes de Bolsonaro puseram a circular é a de que Lula da Silva vai fechar as igrejas evangélicas, algo que este negou em inúmeras ocasiões, alegando, além disso, que a liberdade de culto que existe hoje no Brasil foi alargada com as leis aprovadas durante o seu governo.
"Até meados do ano era seguro dizer que, embora nenhuma campanha esteja livre de mentiras, a campanha de Bolsonaro fez uso sistemático e profissional delas", diz Marlos Apyus, jornalista e analista de audiências do jornal O Estado de São Paulo, citado pela agência Europa Press.
O especialista afirma que a campanha de Lula da Silva tem vindo a reduzir a diferença em relação à de Bolsonaro, no que toca a informações falsas, mas adverte que, em qualquer caso, "percebe-se que o material disseminado pelo bolsonarismo provoca maiores danos".
A campanha de Lula da Silva teve de desmentir qualquer ligação entre o ex-presidente e o satanismo, depois de aparecerem vídeos nos meios de comunicação social mostrando o líder a participar em cerimónias religiosas.
Bolsonaro também foi acusado de ser um satanista depois de terem sido divulgados vídeos em que aparecia em reuniões maçónicas, e teve mesmo de se defender contra acusações de canibalismo.
Também circulam, com especial virulência, mensagens que alertam para uma eventual fraude eleitoral contra Bolsonaro alegando que o sistema de votação eletrónico usado no Brasil não é fiável, quando em 25 anos nunca foi detetada qualquer irregularidade no seu funcionamento.
O próprio chefe de Estado semeeou as dúvidas sobre as máquinas de sufrágio em dezenas de ocasiões, chegando mesmo a convocar, em 2021, uma conferência de imprensa em que expôs argumentos conspiratórios, mas sem apresentar provas.
Parte dos seus apoiantes estão convencidos de que é impossível Bolsonaro perder, pelo que muitos analistas não excluem a possibilidade de um cenário no Brasil semelhante ao que aconteceu em janeiro de 2021 em Washington, quando o Capitólio dos EUA foi invadido por apoiantes de Donald Trump que não acreditaram que o magnata tinha perdido as eleições.
Algumas destas acusações não são feitas através dos meios de comunicação oficiais da campanha, mas através de canais paralelos que funcionam 'de facto' como veículos de campanha.
Para combater a desinformação, os juízes do Supremo Tribunal e do Tribunal Eleitoral decidiram que a publicidade para as eleições deve terminar este sábado e que as redes sociais devem eliminar as notícias falsas no prazo de duas horas, sob ameaça de multas.
"Tal como as redes sociais permitem o ativismo em países autoritários, elas provaram ser igualmente prejudiciais no ataque à democracia, proporcionando uma montra para preconceitos, ideias homofóbicas e racistas que servem de base a notícias falsas e que, no caso do Brasil, foram fundamentais na eleição de Bolsonaro em 2018", considerou Humberto Meza, politólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O WhatsApp é o principal veículo para propagação de 'fake news' no Brasil, com 79% dos cidadãos a afirmar receber notícias principalmente através desta aplicação, de acordo com um estudo solicitado pelo parlamento em 2020.
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