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Brasil/Eleições: Teorias da conspiração, notícias falsas e medo no WhatsApp durante a campanha

São Paulo, Brasil, 26 out 2018 (Lusa) - Nas eleições presidenciais do Brasil de 2018, a rede social WhatsApp tornou-se um meio especialmente usado para fazer propaganda política, mas principalmente para espalhar notícias falsas, teorias da conspiração e medo.

Nos últimos dez dias, a Lusa a acompanhou publicações em pelo menos 20 grupos que reúnem eleitores favoráveis ao candidato Jair Bolsonaro do Partido Social Liberal (PSL) e ao candidato Fernando Haddad do Partido dos Trabalhadores (PT), constatando um clima conspiratório e pesado que envolve as presidenciais brasileiras.

Além dos famosos 'memes' a desqualificar o adversário e apontando os escândalos de corrupção ligados ao PT, os grupos de WhatsApp criados por apoiantes do candidato Bolsonaro veiculavam diariamente mais de mil mensagens em que se destacaram teorias da conspiração que variam de acusações de fraude nas urnas, manipulação de sondagens eleitorais e planos de assassinato contra o candidato do PSL.

Nestes dez dias, a notícia falsa mais partilhada nos grupos pró-Bolsonaro tratava do chamado "kit gay", uma polémica iniciada em 2011 e reavivada nesta campanha eleitoral, sobre a suposta distribuição de um material didático patrocinado por Haddad quando era ministro da Educação, que teria um conteúdo voltado para a erotização das crianças.

A polémica motivou até uma ação do candidato Haddad do PT no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O TSE determinou a suspensão de 'links' de 'sites' e redes sociais com a expressão "kit gay", considerando a informação é inverídica.

Embora a informação seja falsa, a verdade é que saiu ela saiu dos grupos de apoiantes de Bolsonaro e espalhou-se por todo o Brasil.

Um levantamento da empresa Atlas Político identificou que esta notícia falsa foi considerada verdadeira por mais de um terço dos eleitores brasileiros.

Por estes dias, também circulou uma suposta denúncia de que Haddad e a candidata a vice-presidente, Manuela D'Ávila, estariam a preparar um ataque propositado contra eles próprios para incriminar Bolsonaro, facto que, segundo os apoiantes deste, seria "um ato de desespero que está a dominar toda a esquerda".

Já hoje, uma fotografia em que o candidato Haddad aparece a receber uma comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA), que veio acompanhar as eleições no país, também sugeria uma suposta conspiração conjunta do PT com membros desta entidade, para cometer fraude o resultado eleitoral na segunda volta da corrida presidencial brasileira, que será disputada no domingo.

Nos grupos de WhatsApp favoráveis a Fernando Haddad, a maioria das publicações apresenta vídeos e declarações polémicas de Bolsonaro sobre negros, mulheres, homossexuais, minorias e frases ditas pelo candidato ao longo de sua carreira que fazem apologia à violência.

A Lusa verificou que as mensagens dos grupos pró-Haddad são numericamente muito inferiores às dos grupos pró-Bolsonaro e trataram maioritariamente de temas como o medo do regresso da ditadura e denúncias de casos de violência.

Porém, nestes grupos de WhatsApp também circularam informações falsas sobre Bolsonaro e muitos 'memes' criados para desqualificá-lo, associando a sua imagem a Hitler e a outros líderes fascistas.

Uma das mensagens falsas mais partilhadas nos grupos pró-Haddad diz que Bolsonaro teria a intenção de retirar o 13.° salário dos brasileiros, prática que consiste num pagamento extra em dezembro aos funcionários com contrato de trabalho.

Embora seu candidato a vice-presidente, general Hamilton Mourão, tenha criticado publicamente o 13.° salário, Jair Bolsonaro veio a público para desautoriza-lo e afirmou não ter a intenção de mudar a lei sobre este direito dos trabalhadores.

Fora dos grupos, o uso do WhatsApp e a propagação de notícias falsas em massa gerou inúmeras polémicas no Brasil.

Na semana passada, o Jornal Folha de São Paulo divulgou uma reportagem sobre a alegada compra da divulgação massiva de informações falsas naquela rede social contra o PT, que teria sido realizada antes da primeira volta das presidenciais, supostamente patrocinada por empresários apoiantes de Bolsonaro.

A Justiça brasileira investiga o caso.

CYR // SR

Lusa/Fim