Bulgária convocada domingo para eleições legislativas e europeias em plena crise
Sófia, 07 jun 2024 (Lusa) -- Os búlgaros são convocados domingo pela sexta vez em três anos para eleições legislativas, que coincidem com as europeias, em clima de fragmentação política e numa campanha dominada pelos crónicos problemas económicos e sociais e a guerra na Ucrânia.
A instabilidade política búlgara, um dos países mais pobres da União Europeia (UE) poderá persistir após este escrutínio devido à incapacidade dos partidos em formar governos estáveis, agravada por uma eventual alteração da composição do hemiciclo.
O colapso do acordo de coligação entre o Cidadãos para o desenvolvimento europeu da Bulgária (GERB, conservador e populista pró-europeu) e a aliança Nós Prosseguimos a Mudança e Bulgária Democrática (PP-BD, liberal e também pró-europeia), que garantiam uma maioria de 133 dos 240 lugares no parlamento nas últimas legislativas (abril de 2023) -- para além do apoio dos 36 assentos do Movimento dos direitos e das liberdades (DPS), o partido da minoria curta --, ditaram este novo escrutínio.
O Governo cessante tinha como objetivo garantir a entrada na zona Schengen de livre circulação (parcialmente garantida em março), o acesso à zona euro para janeiro de 2025, a manutenção do apoio à Ucrânia ou alterações à Constituição para reformar o sistema judicial e reforçar o combate à corrupção, mas são projetos que permanecem adiados.
As sondagens variam entre uma nova vitória do GERB, sem maioria absoluta, ou um empate técnico entre o "campo pró-europeu", o Vazrazhdane (Renascimento), uma formação ultranacionalista e anti-imigração, e o DPS.
De momento, também parece excluída qualquer aliança com o Partido Socialista Búlgaro (BSP) -- que segundo as sondagens também deverá ultrapassar a barreira dos 4% de votos expressos para garantir representação parlamentar -- ou os ultranacionalistas, que têm acentuado as suas críticas à NATO e a abordagem face à guerra na Ucrânia.
Entre 24 e 27 de maio, na sessão de primavera da Assembleia parlamentar da NATO que decorreu em Sófia, o secretário-geral Jens Stoltenberg apelou aos Estados-membros a permitirem que a Ucrânia utilize o seu armamento para atacar em território da Rússia, mas prevalecem na Bulgária desacordos sobre o fornecimento de armas a Kiev.
Neste contexto, o ministro da Defesa do Governo de transição, Atanas Zaprianov, revelou que a Bulgária estava a ser alvo de "ataques híbridos" em plena campanha, com o objetivo de "influenciar os resultados das eleições legislativas e europeias", indicando que a "desinformação russa" atingia as próprias Forças Armadas, com um défice crónico de alistamento e cerca de 20% dos postos vazios.
Num país dos Balcãs com cerca de 6,3 milhões de habitantes, multiétnico e fraturado, os partidos do campo pró-ocidental aproveitaram o encontro da NATO para insistir na sua orientação geopolítica. Assim, o primeiro-ministro interino, Dimitar Glavtchev, proveniente do GERB, apelou ao reforço da presença da Aliança no mar Negro.
Já o Presidente Rumen Radev, conhecido pelas suas posições "pró-russas", decidiu no mesmo momento deslocar-se à Hungria para se encontrar com Viktor Orbán, e revestida de importante significado.
Antigo general da Força Aérea, Radev assume ainda, segundo a Constituição, a chefia das Forças Armadas. Em Budapeste, apelou que se "encontre rapidamente uma solução, mas sem enviar tropas da NATO para a Ucrânia".
As declarações do chefe de Estado búlgaro foram recebidas com entusiasmo pelo designado "setor pró-russo". O Partido Socialista (BSP), que apoia Rumen Radev, pediu designadamente ao parlamento que proíba o envio de tropas búlgaras para a Ucrânia, mesmo que esta decisão nunca tenha sido proposta pelo Executivo.
Na perspetiva dos socialistas búlgaros, autorizar a utilização de armas europeias para atacar território da Rússia implicaria uma "escalada do conflito" com o risco de "aumentar o número de vítimas dos dois lados" e com "consequências económicas e sociais para o mundo inteiro, incluindo a Europa e a Bulgária".
Em paralelo, a adesão da Bulgária à União Europeia (janeiro de 2007) e a integração na NATO (março de 2004) não são questionadas pelos partidos tradicionais, mas constituem temas privilegiado para a extrema-direita.
"Libertemos a Europa da União Europeia" é o lema do Vazrazhdane (Renascimento) dirigido por Kostadin Kostadinov, que poderá registar forte subida nos dois escrutínios paralelos de domingo.
Esta formação, também considerada "pró-russa", defende a saída da Bulgária da NATO e a renegociação da adesão à UE. O partido tentou aproximar-se do grupo do Parlamento Europeu Identidade e Democracia (ID), que inclui a União Nacional francesa, mas as suas posições foram consideradas demasiado extremas, em particular sobre a Rússia.
Apenas os alemães da Alternativa para a Alemanha (AfD, extrema-direita) lhe forneceram apoio. Este partido acabou de ser excluído do grupo ID, suspeito de receber financiamentos de Moscovo e Pequim. E Kostadinov já sugeriu a criação de um novo grupo no Parlamento Europeu durante a próxima legislatura.
PCR // APN
Lusa/Fim