EUA acusam China e Rússia de promover desinformação na América Latina

Washington, 13 mai 2020 (Lusa) -- Os Estados Unidos acusam os governos da China e da Rússia de usarem os aliados dos regimes cubano e venezuelano para disseminarem desinformação na América Latina, em plena pandemia de covid-19.
Michael Kozak, secretário adjunto interino do escritório de assuntos do hemisfério ocidental do Departamento de Estado norte-americano, disse hoje ter provas de que Moscovo e Pequim estão a usar a sua esfera de influência em Cuba e na Venezuela para controlar a narrativa global sobre o combate à pandemia de covid-19.
Numa videoconferência de imprensa que a Lusa acompanhou, Kozak disse que a China e a Rússia estão a concertar esforços para uma alargada rede de propaganda e desinformação na América Latina, tirando proveito da vulnerabilidade de muitos dos países mais afetados pela pandemia para passar a sua versão de superioridade no combate à propagação do novo coronavírus.
Na videoconferência, também Lea Gabrielle, coordenadora do gabinete de contacto global, do Departamento de Estado, disse ter provas do "poderoso esforço" que está a ser feito por Moscovo e Pequim para usar centenas de meios de comunicação em língua espanhola de forma a distorcer a realidade da atual pandemia.
Lea Gabrielle deu o exemplo de imagens de vídeo, difundidas por várias estações de televisão da América Latina e por páginas 'online' de diferentes 'media' da região, em que se criava a ideia de que o Governo do Equador estava a queimar cadáveres de vítimas da pandemia nas ruas, para poderem lidar com o problema do agravamento dos números de mortes.
"Na verdade, as imagens eram totalmente manipuladas. Tratava-se de imagens de pneus a arder em ruas do Equador, durante manifestações que ocorreram há vários anos", referiu Gabrielle, para ilustrar o que considera ser a "tática de desinformação em massa" orquestrada pelos governos russos e chinês.
Michael Kozak disse saber que Rússia, China e Irão estão a usar os regimes de Cuba e da Venezuela para produzirem e disseminarem elevada quantidade de informação distorcida sobre o combate à pandemia, com o fim de realçar a forma desastrosa como as democracias ocidentais estão a falhar no combate à propagação do novo coronavírus.
Os dois responsáveis do Departamento de Estado norte-americano dizem que, nos últimos meses, a China tem desenvolvido um alargado plano de propaganda global para criar a narrativa de que o país onde teve origem a pandemia de covid-19 é também o país mais eficaz a combatê-lo, ao mesmo tempo que procura expor a fragilidade dos países ocidentais, em particular dos EUA, nessa crise sanitária.
"A melhor arma que temos para combater essa propaganda é a verdade. Temos de continuar a defender a verdade", disse Gabrielle, depois de Kozak ter denunciado o forte investimento que a China e a Rússia estão a fazer para controlar meios de comunicação social na América Latina.
"Não podemos competir com eles. Nem queremos competir com eles nessa estratégia. A nossa opção é a transparência", disse Kozak, mencionando o investimento bilionário que está a ser feito pela China e pela Rússia em empresas que produzem perfis falsos nas redes sociais ou programas de informação com conteúdos distorcidos para serem difundidos em 'media' da América Latina, com a colaboração e apoio dos regimes de Cuba e da Venezuela de Nicolas Maduro.
"O Partido Comunista Chinês está particularmente ativo, mexendo a sua teia de influência junto do Governo de Cuba e do regime venezuelano de Maduro para criarem um ecossistema global de desinformação, com particular incidência na América Latina", denunciou Lea Gabrielle.
No final da videoconferência, que a Lusa acompanhou juntamente com um grupo de jornalistas internacionais, os responsáveis do Departamento de Estado norte-americano deixou um apelo aos "meios de comunicação livres e independentes" para denunciarem estas práticas abusivas de informação por parte de Moscovo e de Pequim.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 290 mil mortos e infetou mais de 4,2 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de 1,4 milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, vários países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.
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