Diplomata russo Anatoly Smirnov critica desconfiança entre países e exorta OSCE a ser mais ativa
Lisboa, 08 mai (Lusa) -- O diplomata Anatoly Smirnov, da associação russa para a Segurança da Informação, defendeu que a desconfiança entre países é hoje a chave para compreender as ameaças do "ciberespaço" e exortou a OSCE a ser mais ativa no meio digital.
"Primeiro temos de acabar com a guerra nas nossas cabeças", começou por dizer Anatoly Smirnov, referindo que o problema da desconfiança começa desde logo "no pensamento das pessoas" e naquilo "que se apresenta como desconfiança entre países".
O diplomata intervinha no painel "cibersegurança e democracia, medidas para a construção da confiança", tema do primeiro painel de debate de uma conferência promovida pela Assembleia Parlamentar da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), que decorre na Assembleia da República.
Responsável por uma associação criada em Moscovo para "proteger a segurança da informação", Anatoly Smirnov frisou que hoje se assinalam 73 anos sobre a "vitória contra a Alemanha nazi", lembrando o contributo da União Soviética para o fim da II Guerra Mundial.
Anatoly Smirnov considerou que hoje "a Internet é um espaço muito crítico" e disse que a Rússia tomou a dianteira apresentando à Organização das Nações Unidas (ONU), no passado, "uma série de documentos estratégicos" com propostas para "o combate e a luta contra as ameaças criados pelos meios tecnológicos e pelo `ciberespaço´".
"Não foi bem aceite, a Rússia foi criticada por esta ideia, mas o mau espírito saiu da garrafa e perdemos muito tempo", lamentou Anatoly Smirnov, considerando que a OSCE "toma uma atitude passiva relativamente ao que se passa no meio digital".
O diplomata referiu o caso da empresa "Cambridge Analytica", empresa britânica acusada de recolher dados pessoais de milhões de utilizadores da rede social Facebook, lamentando que os países "critiquem a Rússia mas não criticam a Inglaterra", numa alusão às acusações de alegada ingerência russa nas eleições e no processo político norte-americano.
O presidente da Associação russa para a Segurança da Informação defendeu que é preciso "reanimar a assembleia parlamentar da OSCE e dar mais força para trabalharem de forma mais ativa e transparente" na regulação do `ciberespaço´, defendendo que a Rússia pode dar um contributo importante nesta matéria e que "tem uma experiência bastante rica" no que respeita a medidas de "criação de confiança".
No debate, Ignácio Sanchez Amor, presidente da Comissão de Democracia, Direitos Humanos e Questões Humanitárias da Assembleia Parlamentar da OSCE, advertiu para os problemas criados pelas chamadas "fake news" (notícias falsas), que se tornam "virais" na Internet e que pretendem "criar o caos e corroer a legitimidade e a fiabilidade dos sistemas eleitorais".
"Quais os efeitos das `fake news´? Uma completa polarização da sociedade, que torna mais difícil qualquer pacto político. É mais fácil neutralizar um programa maligno do que um efeito maligno nas nossas cabeças", admitiu.
"Há que fazer regulação", defendeu, exemplificando que a Espanha consagrou na sua Constituição o direito a uma "informação fiável".
No debate, o deputado do PS Ascenso Simões considerou que "a novidade" no que toca às ameaças à fiabilidade da informação é "a utilização de ferramentas" já que, historicamente, é possível encontrar nas campanhas de Alexandre o Grande e em Maquiavel o uso da informação e da contra-informação como armas para conquistas territórios.
Num segundo painel de debate, dedicado aos "Desafios Tecnológicos do Ciberespaço", o diretor do Centro de Competências em Cibersegurança e Privacidade, da Universidade do Porto, Luís Antunes, defendeu que as tecnologias digitais estão a pôr em causa "os direitos, liberdades e garantias".
"O pior que pode acontecer é isto estar a acontecer sem as pessoas saberem que isto está a acontecer", advertiu, propondo, como meios para enfrentar os desafios, "regulação e o aumento da consciência social".
"Começamos agora a falar em segurança por desenho e privacidade por desenho", disse, referindo-se a programas desenvolvidos na Universidade do Porto para que as pessoas possam controlar aquilo que expõe no ciberespaço.
"Neste momento não conseguimos controlar essa exposição", disse, advertindo que o principal efeito da exposição dos dados pessoais, do seu uso indevido, é a possibilidade de os comportamentos poderem ser condicionados.
Luís Antunes disse que começa a haver "novos atores que influenciam o comportamento na sociedade" e que só se consegue travar essa evolução através de uma inevitável "colaboração" entre as várias entidades que operam nesta área.
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Lusa/fim