A apresentar resultados para:
Ordem
Mais Recentes
Mais Recentes Mais Antigas
Data
Tudo
Na Última Hora Últimas 24 Horas Últimos 7 Dias Último Mês Último Ano Tudo Datas específicas

Diretor-geral do Gabinete Nacional de Segurança defende mais literacia para IA

O diretor-geral do Gabinete Nacional de Segurança, almirante António Gameiro Marques, intervém durante a Conferência “Inteligência Artificial - Negócios e Democracia”, na sede da Lusa, em Lisboa, 25 de setembro de 2023. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Lisboa, 30 jan 2025 (Lusa) - O diretor-geral do Gabinete Nacional de Segurança defende, em entrevista à Lusa, mais literacia para a inteligência artificial (IA) e, quanto ao modelo chinês DeepSeek, considera que as pessoas têm de ter informação para poderem decidir.

O modelo de inteligência artificial generativa da chinesa DeepSeek foi a surpresa desta semana, ao liderar a tabela de 'downloads' (transferências) gratuitos tanto na China como nos Estados Unidos, ultrapassando o famoso ChatGPT, com impacto nas bolsas.

"Temos que pensar de onde é que aquilo vem", afirma António Gameiro Marques, quanto instado a comentar o tema.

"Li um artigo excelente europeu que alerta para o facto de nós, ao estarmos a interagir com o sistema, estamos automaticamente a enviar dados para uma estrutura que de democrática nada tem", adverte o diretor-geral do Gabinete Nacional de Segurança (GNS).

Portanto, "acho que temos que falar nisso, temos que informar as pessoas e as pessoas têm a sua consciência e têm o dever de decidir se querem aderir ou se não querem aderir", prossegue.

Até porque Gameiro Marques não defende a proibição.

"Acho que a proibição não leva a sítio nenhum, leva a que as pessoas encontrem outros mecanismos de alcançar isso" porque "o fruto proibido é o mais desejado", salienta.

Por isso, defende "mais literacia para a inteligência artificial", para que as pessoas possam tomar decisões informadas.

Quanto à DeepSeek, que vai agitar o mercado mundial de IA, António Gameiro Marques confessa que ficou "triste e frustrado por pertencer a um bloco, que é União Europeia, que continua sem se afirmar também aí".

"Não é a falta de inteligência, não é a falta de massa cinzenta de qualidade, é talvez falta de iniciativa, de gosto pelo risco", refere Gameiro Marques, recordando que os empreendedores portugueses (unicórnios) tiveram de ir para os Estados Unidos para arranjar capital de risco.

O responsável espera que haja mudança neste âmbito, nomeadamente o "'mindset' em relação ao risco" porque se não houver essa mudança não se vai longe.

Quanto ao contexto geopolítico atual e o estado de arte da IA e das redes sociais, em que a rede social X está a ser investigada na Europa por eventuais interferências nos processos eleitorais europeus ou do facto de a Meta, dona do Facebook, Instagram e Facebook, ter acabado com o programa de 'fact-checking' (verificação de factos) nos Estados Unidos, António Gameiro Marques manifesta "a maior preocupação" enquanto cidadão e dirigente público.

"Baseio-me em dados. Todos os anos, em fevereiro, é publicado um relatório" que é uma referência, "que é o freedomhouse.org", aponta.

E esse relatório, na última edição de 2024, "demonstra quantitativamente (...) que há 18 anos seguidos que o número de países em democracia tem diminuído sistematicamente no mundo".

"Há uns que melhoram, outros que pioram, mas o deve e o haver é sempre negativo para aqueles que pioram", enfatiza.

Ora, "se não fizermos nada contra isso, num futuro não muito longo, não vamos ter democracias no nosso mundo", adverte António Gameiro Marques.

"É isso que queremos? Ou vamos caminhando para o abismo impávidos e serenos, esquecendo que isso é um facto?", questiona.

"Eu acho que não se pode esquecer disso e o próprio relatório diz que a tecnologia, em particular o acesso fácil à tecnologia", nomeadamente à IA, "tem propiciado que as pessoas que querem fazer mal a usem para tirar partido da baixa literacia que algumas pessoas têm nisso", alerta.

Gameiro Marques foi o orador convidado do Club dos CIOs da EY Portugal, onde abordou os desafios da cibersegurança e diretiva NIS2.

Jornalistas não devem ter medo, mas usar IA com formação  

Na entrevista à Lusa, Gameiro Marques afirma que os jornalistas não devem ter medo de usar inteligência artificial (IA), mas devem ter formação sólida para isso.

De acordo com um inquérito do observatório social da Universidade Nova, os jornalistas estão preocupados com a IA, mais de 70% admitem que o jornalismo pode ser ameaçado pelas tecnologias das grandes empresas tecnológicas.

Os dados indicam que 59,5% dos inquiridos já ouviu falar da IA, mas não tem uma noção aprofundada do que é, contra os 4% que responderam ter um conhecimento avançado, enquanto 36,5% admitem ter noções básicas da tecnologia.

"O que eu diria é: ‘não tenham medo de usar, não proíbam, agora tentem, junto dos vossos dirigentes, obter formação sólida sobre isso’", afirma Gameiro Marques, quando instado a dar um conselho ao setor.

"Não tentem improvisar, experimentem, eu próprio experimento num contexto controlado, agora tenham formação, procurem formação", insiste o diretor-geral do GNS.

Desde formação em boas escolas portuguesas, ou noutras, António Gameiro Marques dá o exemplo do CENJOR: "Porque é que não suscitam, desafiam o CENJOR a criar formação de IA para jornalistas".

Aliás, "se fosse um profissional dessa área, podem ter a certeza que já teria suscitado isso, porque é importante que nós saibamos usar uma ferramenta que é importantíssima em vez de estarmos do lado fora da muralha, a dizer ‘não, não, não’", prossegue.

"Ou usar criando uma coisa que é o 'Shadow AI' [uso de IA sem supervisão e aprovação da empresa]. Havia o 'Shadow IT', que eram aquelas aplicações que as pessoas usavam e que o departamento de 'IT' [tecnologia] não sabia, e agora há o 'Shadow AI'", aponta.

Gameiro Marques salienta que recentemente leu um artigo onde são identificados os riscos do 'shadow AI’ e que planos para mitigar esses riscos é que devem ser feitos, "e um deles é precisamente dar formação às pessoas para elas terem consciência dos perigos e das vantagens que têm em utilizar isto".

Questionado sobre se a inteligência artificial poderá substituir os jornalistas, é perentório: "Não".

"Eu acho que, pelo menos no meu tempo de vida, não deve, porque acho que vai ser uma boa ajuda para vocês [jornalistas], já o é para mim", refere, adiantando que usa algumas ferramentas para, por exemplo, transcrever áudio".

"Não tenho o texto para poder ler e refletir sobre ele, ouço, gravo e transcrevo", acrescenta, referindo que faz também resumos sobre essa transcrição.

"Acho que, se for bem usada, é um excelente incremento da nossa produtividade, mas eu gosto de ver as coisas pelo lado positivo da vida", conclui.

 

Alexandra Luís