ENTREVISTA: Inteligência Artificial “tem que ser instrumental ao jornalismo” – presidente da ERC (C/ ÁUDIO, VÍDEO E FOTOS)
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*** Alexandra Luís (texto), Hugo Fragata (vídeo) e João Relvas (foto), da agência Lusa ***
Lisboa, 07 nov 2024 (Lusa) - A presidente do regulador dos media ERC afirma, em entrevista à Lusa, que a inteligência artificial (IA) "tem que ser instrumental ao jornalismo" e que é um "grande desafio" no que respeita à desmontagem dos conteúdos.
Em entrevista à Lusa no dia em que cumpre um ano de mandato à frente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), Helena Sousa adianta que o órgão "ainda não" usa a IA, mas "está a acompanhar" e a consultar os media sobre a sua utilização.
A inteligência artificial "é um assunto sobre o qual todos falam neste momento. Não é novo, mas de algum modo democratizou-se com o ChatGPT e todas as outras ferramentas que, de algum modo, ajudam os cidadãos a mexer-se, a movimentar-se neste novo mundo".
Agora, como todas as tecnologias, a IA "cria medos, mas também cria possibilidades, e certamente algumas redações já estão a utilizar, outras certamente que não", prossegue Helena Sousa.
Na ERC "estamos a acompanhar esse processo. Temos uma equipa que está precisamente a consultar órgãos de comunicação social, está em diálogo com um conjunto de órgãos de comunicação social para saber se já estão a fazer alguma utilização para tentar perceber de que modo é que leem os desafios e os riscos da inteligência artificial", conta a presidente.
Em relação ao caso português, "nós ainda não temos um estudo muito aprofundado, mas estamos a fazê-lo, e sabemos naturalmente que algumas redações até já têm instrumentos normativos, portanto, não estamos de um modo absolutamente cego, mas não temos um estudo ainda adequado que possa ser publicado e que possa ser útil", diz.
A Europa aprovou regulação sobre o assunto e a "ERC, tanto quanto percebemos, será uma das entidades competentes para a implementação (...) desse regulamento. É claro que quando essas competências nos forem devidamente atribuídas, uma vez mais, tudo faremos para o fazer com todo o cuidado, com todo o rigor, com toda a exigência", salienta Helena Sousa.
"Agora, aquilo que me parece absolutamente fundamental relativamente à IA é que ela não serve para substituir o jornalismo", sublinha, referindo que a IA pode "eventualmente ser uma ferramenta útil para ajudar o jornalismo e os jornalistas".
Mas, insiste, "o essencial do jornalismo passa pelo humano, passa pela decisão, pela escolha do que é notícia, do que merece cobertura noticiosa, passa pela escolha editorial relativamente aos elementos que compõem a notícia ou a reportagem, passa pelo agendamento".
Ou seja, "tudo aquilo que é central no jornalismo, a verificação dos factos, o rigor, tudo isso se mantém", reforça.
Em suma, "a inteligência artificial tem que ser instrumental ao jornalismo e, se for utilizada, tem que ser para ajudar, para melhorar o funcionamento do jornalismo", defende Helena Sousa, que é a primeira mulher a presidir a ERC.
Além disso, a IA é "um grande desafio também do ponto de vista da desmontagem dos conteúdos".
Neste aspeto, "é um desafio para o jornalismo, mas é também um desafio para a cidadania, porque, de facto, é muito importante ajudar os cidadãos a desmontar aquilo que é possível fazer com a inteligência artificial", considera.
"E essas garantias de que as pessoas compreendem o que é verdadeiramente aquilo que estão a ver, isso sim, parece-me muito desafiante", admite.
Nessa esfera "precisamos da literacia mediática e a inteligência artificial será certamente um dos eixos estruturantes no quadro das literacias (...) de hoje e do futuro", remata.
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