Eurodeputados defendem medidas contra desinformação, Chega diz que UE cria ‘fake news’

Estrasburgo, França, 12 fev 2025 (Lusa) - Eurodeputados portugueses do PS, AD, IL, BE e PCP defendem a necessidade de medidas para proteger a União Europeia (UE) contra 'fake news' e desinformação, enquanto o Chega diz que a UE as produz.
Bruno Gonçalves, eurodeputado do PS, afirmou à Lusa, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, à margem do debate sobre a "Defesa da Integridade Digital da Europa: enfrentar os desafios das redes sociais e a interferência estrangeira", que "hoje não se sabe distinguir a verdade da mentira". "Se não é aconselhável mentir na vida pública, também não pode ser nas redes sociais. Isto é algo que tem de ser regulado", disse.
O eurodeputado da Aliança Democrática Sebastião Bugalho realçou que "a disseminação de narrativas alternativas é perigosa e tem um efeito político evidente", mas acrescenta que o Partido Popular Europeu (PPE) e a Comissão Europeia têm medidas, como o Regulamento dos Serviços Digitais (RSD), que visam a proteção contra notícias falsas.
Ana Vasconcelos Martins, da Iniciativa Liberal (IL), salientou, por seu turno, "a responsabilidade que a impressa tradicional tem, através do destaque que dá ao que se passa nas redes sociais". "Quem quiser mesmo procurar informação credível tem que fazer o exercício de ir ver o que várias fontes estão a dizer", referiu a eurodeputada.
Catarina Martins, do Bloco de Esquerda (BE), mencionou que para combater a desinformação "a União Europeia devia ter uma plataforma e investir mais no digital", refletindo sobre a fragilidade da comunicação.
O eurodeputado do PCP João Oliveira afirmou "todo o tipo de mecanismos de censura ou de controlo de conteúdos não são verdadeiramente mecanismos que permitem resolver o problema", acrescentando que "o ataque a este problema tem que ser feito por via do aprofundamento da democracia".
O eurodeputado do Chega António Tânger Corrêa disse, por sua vez, que "a própria União Europeia, nomeadamente a Comissão, põe bastantes 'fake news' a circular", acrescentado que a confiança das pessoas nas instituições europeias está a esmorecer.
Mais educação mediática
Também à margem da reunião de Estrasburgo, eurodeputados portugueses salientam a necessidade de investir na educação mediática, recordando ser essa a responsabilidade de cada Estado-membro.
Bruno Gonçalves, do PS, afirmou ser "importante ter mais literacia mediática nas escolas, através de programas para adaptação digital". "É importante ensinar como operar da melhor forma uma rede social, como é que se pode dissecar melhor informação e que canais são informativos. Isto está relacionado com a nossa segurança individual e coletiva", referiu Bruno Gonçalves.
Já o eurodeputado da Aliança Democrática (PSD/CDS-PP) Sebastião Bugalho realça o princípio da subsidiariedade em matérias de educação. "Em relação à literacia mediática, o facto de se exigir alguma 'accountability' às grandes plataformas de redes sociais salienta a função de potência regulatória da UE [União Europeia]", disse também o eurodeputado.
Tânger Corrêa, do Chega, defende que deve "haver um espaço aberto na União Europeia, sem retirar a soberania aos Estados-Membros, onde se debata o tema da educação mediática". No atual contexto, o eurodeputado diz que "vai tudo no caminho errado".
Por seu lado, Ana Vasconcelos Martins, eurodeputada da Iniciativa Liberal (IL), disse "ser fundamental apostar na transmissão de literacia mediática, sobretudo nos jovens", acrescentando que "quando se vê informação, é uma atitude saudável ter algum ceticismo".
A bloquista, Catarina Martins, mencionou que "se a União Europeia ficar à espera da autorização de Elon Musk, Zuckerberg, dos donos chineses do TikTok ou dos russos do Telegram para começar a falar destes assuntos claramente e dizer que a manipulação está em causa nunca o vai fazer".
Pelo PCP, o eurodeputado João Oliveira também enfatizou a necessidade da formação sobre o tema: "Se a desinformação e as 'fake news' se aproveitam da ignorância das pessoas, dê-se acesso aos níveis mais elevados de ensino, permita-se que as pessoas através da educação, ultrapassem a barreira da instrumentalização."
Paulo Resendes