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Ex-especialista de dados acusa Facebook de prejudicar crianças e aumentar polarização nos EUA

Picture taken on May 12, 2012 in Paris shows an illustration made with figurines set up in front of Facebook's homepage. Facebook, already assured of becoming one of the most valuable US firms when it goes public later this month, now must convince investors in the next two weeks that it is worth all the hype. Top executives at the world's leading social network have kicked off their all-important road show on Wall Street -- an intense marketing drive ahead of the company's expected trading launch on the tech-heavy Nasdaq on May 18.  AFP PHOTO/JOEL SAGET (Photo by Joël SAGET / AFP)        (Photo credit should read JOEL SAGET/AFP/Getty Images)

Washington, 05 out 2021 (Lusa) - Uma especialista de dados e ex-funcionária do Facebook declarou hoje que os produtos do gigante tecnológico prejudicam as crianças e alimentam a polarização nos EUA, e que a empresa se recusa a fazer mudanças por causa dos lucros.

Frances Haugen, que falava perante a subcomissão de Comércio do Senado norte-americano, acusou o gigante das redes sociais de ter conhecimento de danos aparentemente causados ??a adolescentes pelo Instagram e de ser "desonesta na sua luta pública contra o ódio e a desinformação"

Frances Haugen fez uma ampla condenação do Facebook, sustentada por dezenas de milhares de páginas de documentos de pesquisa interna que copiou secretamente antes de deixar o seu emprego na empresa.

A ex-funcionária do Facebook apresentou também queixas junto das autoridades federais, alegando que a própria pesquisa do Facebook amplifica o ódio, a desinformação e a agitação política, mas que a empresa esconde essa realidade.

Frances Haugen esclareceu que está a fazer tais revelações porque acredita que "os produtos do Facebook prejudicam as crianças, alimentam a divisão e enfraquecem a democracia" norte-americana.

"A liderança da empresa sabe como tornar o Facebook e o Instagram mais seguros, mas não fará as alterações necessárias porque isso poderá colocar em risco os seus lucros astronómicos", referiu Frances no seu depoimento.

Nas suas palavras, é necessária uma ação do Congresso para mudar a situação.

Após reportagens recentes no "The Wall Street Journal" baseadas em documentos que a ex-funcionária forneceu ao jornal, houve um clamor público, tendo Frances Haugen revelado a sua identidade numa entrevista ao programa da CBS "60 Minutos", no domingo à noite.

Na entrevista, insistiu que "o Facebook, repetidamente, mostrou que prefere o lucro à segurança" das pessoas.

A ex-funcionária, que desafiou assim o gigante das redes sociais com 2,8 bilhões de utilizadores em todo o mundo, é uma especialista em dados, de 37 anos, de Iowa, formada em engenharia da computação e mestre em negócios por Harvard.

Antes de ser recrutada pelo Facebook em 2019, trabalhou durante 15 anos em empresas de tecnologia, incluindo Google, Pinterest e Yelp.

O painel do Senado está a examinar o uso que o Facebook faz com as informações resultantes das pesquisas no Instagram, existindo indicações de que podem causar danos potenciais a alguns de seus utilizadores jovens, especialmente raparigas.

Para alguns dos adolescentes fãs da plataforma de partilha de fotos, a pressão dos colegas gerada pelo Instagram levou a problemas de saúde mental e de imagem corporal e, em alguns casos, provocou distúrbios alimentares e pensamentos suicidas, indica a pesquisa de Frances Haugen.

De acordo com a especialista em dados, um estudo interno do Facebook indicou que 13,5% das adolescentes admitiam que o Instagram tornava piores os pensamentos suicidas e 17% das adolescentes reconheciam que piorava os transtornos alimentares.

"A empresa oculta intencionalmente informações vitais ao público, ao governo norte-americano e aos governos em todo o mundo", acusou Frances Haugen no seu depoimento.

Segundo a ex-funcionária, os documentos que agora forneceu provam que o Facebook repetidamente enganou o público sobre o que a sua própria pesquisa detetou sobre a segurança das crianças, a eficácia dos seus sistemas de inteligência artificial e o papel na disseminação de mensagens polarizadores e extremistas"

Devido à polémica causada na última semana, o Facebook suspendeu o trabalho que estava a realizar para introduzir uma versão infantil do Instagram, que a empresa dizia ser vocacionada principalmente para adolescentes entre os 10 e os 12 anos.

O Facebook contrapõe que as alegações de Frances Haugen são enganadoras e insiste que não há evidências para apoiar a premissa de que é a principal causa da polarização social.

"Mesmo com a tecnologia mais sofisticada, que acredito que implantamos, mesmo com as dezenas de milhares de pessoas que empregamos para tentar manter a segurança e integridade da nossa plataforma, nunca estaremos absolutamente no topo desses 100%", observou no domingo Nick Clegg, responsável das relações públicas do Facebook, à cadeia de televisão CNN.

Em sua opinião, isso deve-se à "forma instantânea e espontânea de comunicação" no Facebook, acrescentando: "Acho que fazemos mais do que qualquer pessoa razoável pode esperar".

Por seu lado, Frances Haugen diz esperar que a sua iniciativa ajude a estimular o governo norte-americano a estabelecer regulamentação para as atividades do Facebook.

Entretanto, na segunda-feira, uma paralisação global mergulhou o Facebook, o Instagram e a plataforma de mensagens WhatsApp da empresa no caos, dissipando-se apenas gradualmente no final do dia.

O Facebook não esclareceu cabalmente o que pode ter causado a interrupção, que durou cerca de seis horas.

 

Fernando Carneiro