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‘Brexit’ e Trump, páginas na história que as notícias falseadas podem ter passado

Lisboa, 20 fev 2019 (Lusa) -- Pinto Balsemão fundou um grupo de media, foi primeiro-ministro e admite que, sem o escândalo da Cambridge Analytica, o 'Brexit' podia não ter acontecido e Donald Trump podia ter ficado à porta da Casa Branca.

Com a experiência política de chefiar um Governo, de 1981 e 1983, e de patrão dos media, fundador do Expresso e do canal de televisão SIC, Francisco Pinto Balsemão, em entrevista à agência Lusa, avisou para a ameaça que o fenómeno das 'fake news', ou noticias falseadas, tem para a democracia e para o jornalismo.

"Já reparou que, se não tivesse havido o caso da Cambridge Analytica, se calhar o 'Brexit' [referendo para a saída do Reino Unido da União Europeia] não tinha tido o voto favorável, se calhar Trump não tinha ganhado? Portanto, duas páginas da nossa história recentíssima importantes tinham sido viradas de outra maneira", refletiu.

"É isso que me aflige, sobretudo quando nós temos consciência" destes dois casos "sempre citados": eleições presidenciais norte-americanas e 'Brexit', confessou.

A reflexão e a consciência dos riscos e ameaça para a democracia, na Europa e no Mundo, perpassa todas as entrevistas feitas pela Lusa para preparar a conferência de quinta-feira, em Lisboa, organizada pelas agências noticiosas Lusa e Efe, de Espanha, "Combate às 'fake news' -- uma questão democrática".

Administradores ou 'publishers', jornalistas, diretores da esmagadora maioria dos órgãos de informação nacional (televisões, rádios, agência noticiosa, jornais, diários 'online'), especialistas ouvidos pela Lusa ao longo das últimas semanas, colocam em primeiro lugar o risco para a democracia.

O fenómeno, o da manipulação ou desinformação, já tem séculos e atravessou a História, mas agora, com a Internet e as redes sociais, a velocidade de propagação aumentou muito e tornou-se "uma ameaça à democracia", nas palavras de Ann Mettler, diretora do Centro de Estratégia Política Europeia da Comissão Europeia, na edição de 2018 da Web Summit, em Lisboa.

Uma "gravíssima ameaça para a democracia", nas palavras de Eduardo Dâmaso, diretor da revista Sábado, assim como o são as "mentiras disfarçadas de notícias", na descrição de João Paulo Baltazar, diretor da Antena 1.

"As nossas sociedades estão política e democraticamente ameaçadas, porque acredito profundamente que sem uma informação livre, verdadeira e credível não pode haver democracia", sintetizou a diretora de informação da Lusa, Luísa Meireles.

Um pouco a contraciclo quanto à influência das 'fake news' na formação da opinião política está o professor universitário e ex-ministro Adjunto Miguel Poiares Maduro, com a pasta da comunicação social no Governo PSD/CDS-PP.

Embora advirta que a informação manipulada, falseada, tenha outro efeito: a radicalização do espaço político.

"O que as 'fake news' até este momento têm promovido muito é uma polarização ainda maior (...) do espaço político, ou seja, servem sobretudo para reforçar as convicções daqueles que já estão convertidos a uma determinada posição, radicalizam ainda mais o espaço político, mas no futuro vamos ter 'fake news' ainda mais sofisticadas e que, portanto, podem ter ainda um papel mais perverso", afirmou.

E essa fraca polarização política em Portugal pode ser um dos motivos que, segundo Ana Pinto Martinho, jornalista, docente e investigadora do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, pode ajudar a explicar a confiança dos portugueses nas notícias e o crescimento modesto do fenómeno das 'fake news' no país.

Apesar de tudo, o DN, que no final de 2018 publicou uma série de reportagens sobre as 'fake news', fez a contas e estimou que os dez 'sites' associados a esta prática em Portugal tenham dois milhões se seguidores.

As 'fake news', comummente conhecidas por notícias falsificadas, desinformação ou informação propositadamente falsificada com fins políticos ou outros, ganharam importância nas presidenciais dos EUA que elegeram Donald Trump, no referendo sobre o 'Brexit' no Reino Unido e nas presidenciais no Brasil, ganhas pelo candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro.

O Parlamento Europeu quer tentar travar este fenómeno nas europeias de maio e, em 25 de outubro de 2018, aprovou uma resolução na qual defende medidas para reforçar a proteção dos dados pessoais nas redes sociais e combater a manipulação das eleições, após o escândalo do abuso de dados pessoais de milhões de cidadãos europeus.

 

Nuno Simas e Alexandra Luís