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Denunciante do escândalo Cambridge Analytica defende maior regulamentação para redes sociais

Londres, 28 out 2019 (Lusa) - As redes sociais deveriam ser mais regulamentadas para evitar novos escândalos como os do uso de dados de utilizadores do Facebook pela empresa Cambridge Analytica nas eleições presidenciais norte-americanas em 2016, afirmou hoje um dos principais denunciantes Christopher Wylie.

O canadiano formado na London School of Economics e antigo diretor de investigação na Cambridge Analytica (CA) diz que as redes sociais deveriam ser regulamentadas da mesma forma que outras atividades como a construção civil.

"Quando se constroem edifícios, identificam-se riscos e estratégias de saída de emergência. Nos espaços digitais não pensam nisso. Os espaços digitais são produtos de arquitetura e engenharia", afirmou hoje em Londres, numa apresentação do livro "Mindf*ck: Dentro da Conspiração da Cambridge Analytica para Dividir o Mundo", publicado no início do mês.

Wylie foi um dos principais denunciantes do escândalo de acesso ilegal pela Cambridge Analytica aos dados de milhões de utilizadores da rede social Facebook para uso na campanha eleitoral de Donald Trump para a Presidência dos EUA.

A Cambridge Analytica extraiu os dados através de uma aplicação do Facebook que pretendia ser uma ferramenta de pesquisa psicológica, que depois usou com clientes.

Embora apenas 270.000 pessoas tenham descarregado e partilhado voluntariamente os dados pessoais, a aplicação também conseguiu extrair informações dos amigos desses utilizadores, alargando o grupo até 87 milhões de pessoas.

As alegações de Wylie em 2018 levaram a investigações e inquéritos públicos nos EUA e no Reino Unido e ao encerramento da Cambridge Analytica, que foi fundada por personalidades de direita, como o bilionário Robert Mercer e o ex-assessor da Casa Branca Steve Bannon.

A Comissão Federal do Comércio norte-americana multou a Facebook em cinco mil milhões de dólares (4,6 mil milhões de euros), por más práticas em relação à privacidade dos seus utilizadores.

Porém, Christopher Wylie considera que o risco continua porque alguns dos antigos colegas continuam a trabalhar na campanha para a reeleição de Trump ou criaram outras empresas semelhantes e continua preocupado com a influência política da rede social.

"A Facebook não levou isto mesmo a sério. Foi multada, mas as suas ações valorizaram. O que é preocupante não é o que aconteceu às pessoas [que trabalhavam na CA], mas se Estados como a Rússia, Coreia Norte ou Irão tentam tornar-se na próxima Cambridge Analytica", disse.

Wylie acredita que Steve Bannon e outras figuras da direita populista [alt-right] norte-americana apoiaram a campanha para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) para promover o movimento político a nível global.

"Trabalharam todos juntos, estão a fazer um jogo a longo prazo", avisou, lamentando a falta de conhecimento das autoridades ao uso de fóruns e redes sociais para o recrutamento de militantes, em geral pessoas insatisfeitas com as suas condições de vida.

O canadiano descreve que o debate do 'Brexit' como uma "luta de bar: a discussão nunca vai ser ganha com argumentos lógicos porque há muitas razões para pessoas zangadas não aceitarem".

 

Bruno Manteigas