Fake News: Projeto Academia Media Veritas prevê formar 750 seniores em Gaia
Lusa, 27 dez 2020 (Lusa) - O novo projeto de literacia mediática Academia Media Veritas prevê formar 750 seniores, em Vila Nova de Gaia, contra o 'vírus' da desinformação, disse à Lusa Nadine Santos, coordenadora do projeto, iniciativa da Associação Portuguesa de Imprensa.
A Academia Media Veritas estreou-se em maio de 2020 enquanto projeto de combate à desinformação. A decisão é da Associação Portuguesa da Imprensa que, apoiada pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e pelo Portugal Inovação Social, dinamiza desde outubro sessões formativas aos seniores.
A Academia Media Veritas responsabilizou-se por chegar a 750 pessoas com mais de 55 anos, no concelho de Vila Nova de Gaia, até 2022. Nadine Santos, coordenadora da Academia Media Veritas, agarrou o projeto piloto em julho, dando-lhe forma em outubro. Cada formação está dividida em cinco sessões de uma hora. Nadine Santos regista a participação de 150 voluntários, em apenas três meses.
Para João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa da Imprensa, não restam dúvidas: "Quando falamos de desinformação, sim, é muito importante falarmos dos jovens, mas é ainda mais importante pensarmos nos seniores". A temática das 'fake news' não é uma novidade, mas a crescente curiosidade e vulnerabilidade dos mais velhos tornam o assunto urgente. A preocupação é partilhada por Nadine Santos que acredita que "estas pessoas não compreendem o que lhes chega nas redes sociais e partilham tudo sem se questionarem quem escreveu ou quais as fontes".
"Antes de entendermos as notícias falsas, temos primeiro de perceber se são sequer notícias", explica a coordenadora do projeto. O trabalho da Academia Media Veritas é um processo de desconstrução, que conta com a ajuda de três formadores. Júlio Roldão foi um dos jornalistas convidados pela Associação Portuguesa da Imprensa que, mesmo depois de 28 anos no Jornal de Notícias, continua a dar uso à carteira profissional. A missão do formador é de atenuar a divulgação destes "boatos mascarados de notícias", como prefere designar.
Segundo Júlio Roldão, a solução está no ato de duvidar, lema que Maria José Lopes passou a adotar depois de assistir à formação protagonizada na Academia das Artes da Junta de Freguesia de Arcozelo, entre finais de outubro e inícios de novembro. "Temos de partir do princípio de que estas notícias podem não ser verdadeiras", afirma.
Quando a antiga professora de filosofia de 62 anos se inscreveu na formação já sabia da existência das notícias falsificadas. "Algumas notícias soam logo a falso, mas há outras que preocupam as pessoas", explica Maria José Lopes, que hoje, com a ajuda de Júlio Roldão, conseguiu apurar o sentido crítico e o olhar mais atento. Mesmo assim, o formador alerta para a universalidade do perigo da desinformação: "Ninguém está a salvo da capacidade de mentir facilitada pelas novas tecnologias. Nem mesmo os jornalistas".
Nadine Santos continua a promover as sessões presenciais, com grupos mais restritos de dez a quinze seniores. Mesmo com os contratempos da pandemia, Maria Adelina Pereira, presidente da Junta de Freguesia de Arcozelo, testemunha o sucesso da atividade e a sua imediata adesão. "Se fosse noutros tempos, de certeza que teríamos mais gente", confirma a presidente, assegurando que "certamente já existirão pessoas interessadas em fazer a formação".
Apesar de o projeto ter fim previsto em dois anos, a Associação Portuguesa da Imprensa ambiciona renovar o projeto e estender a iniciativa a toda a área metropolitana do Porto. Por agora, Nadine Santos encarrega-se de preencher a agenda do próximo ano, com o mês de janeiro carregado de formações.
Rita Murtinho