“Sempre houve desinformação” mas hoje há mais atores – especialistas
Lisboa, 14 mar 2019 (Lusa) - A jornalista Rute Sousa Vasco e o assessor de imprensa Rui Lourenço defenderam hoje que o fenómeno das 'fake news' não é novo, que a desinformação "sempre existiu", mas que na atualidade há mais atores no fenómeno.
"A desinformação sempre houve, e o maior desafio hoje é distinguir o que há de desinformação na informação", defendeu a jornalista Rute Sousa Vasco, que é responsável pelo projeto MadreMedia, falando na conferência sobre 'Desinformação (Fake News)', no âmbito do projeto 'Um ciclo que não é um ciclo', na Fundação Portuguesa das Comunicações, em Lisboa.
A jornalista, que também está envolvida no projeto The Next Big Idea, da SIC Notícias, acrescentou que "sempre houve gente a ganhar dinheiro" com a desinformação, com "o propósito de retirar contrapartidas", algo que é maximizado na atualidade por existirem "muitos mais atores no palco público".
"Todos somos atores" nesse palco, disse o assessor de imprensa Rui Lourenço, corroborando aquela ideia.
As redes sociais "tropeçaram no seu maior problema, a humanidade", referiu, acrescentando que o facto de ter ficado ao alcance de todos "poder criar, partilhar, fazer parte de uma notícia" gerou "uma série de problemas que têm de ser combatidos e entendidos".
O assessor voltou à problemática da monetização da desinformação, referindo que "alguns dos 'sites', blogues e páginas das redes sociais" desse género, como o 'Bombeiros Portugueses' ou o 'Direita Política', "existem porque geram dinheiro", e não com objetivos de outro tipo por detrás.
Rute Sousa Vasco questionou ainda o conceito de 'fact checking' (verificação de factos), considerando que é apenas "uma expressão mais 'sexy'" para o normal trabalho jornalístico.
"É inerente ao jornalismo. É novo para quem? Para o jornalista que tem de fazer verificação dos factos? Como jornalistas, o nosso principal cuidado é ter informação validada", referiu.
Rui Lourenço alertou ainda para o problema da suborçamentação da prática jornalística, considerando que "um jornalista mal pago é mais fácil de ser subornado".
Esta ideia foi contrariada por Rute Sousa Vasco, que considerou que muitos jornalistas "têm mais facilidade em deixar-se seduzir pelo poder do que pelo dinheiro", uma sedução "que tem muito mais a ver com personalidade", que leva a que se deslumbrem "com muita mais facilidade".
Sobre o papel do Estado no combate à desinformação, Rui Lourenço defendeu: "Não podemos esperar pelo Estado, que chega sempre atrasado à porta do autocarro, e é nossa obrigação questionar a fonte" de informação.
Neste sentido, adiantou que tem "muitas dúvidas sobre se deve ser o Estado a intervir ou não" no panorama jornalístico, e apelou a que exista "um consenso e a inteligência de não deixar o Estado definir o que é 'fake news' ou não".
Por sua vez, Rute Sousa Vasco admitiu estar "muito preocupada pelo facto dos políticos estarem preocupados" com o problema da desinformação, reconhecendo que uma solução "passa por políticos, mas não só".
"Somos provavelmente a geração mais informada e desinformada de sempre", afirmou a jornalista.