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UE e EUA têm dificuldade em defender a democracia de ataques internos – Eurodeputada

epa09062215 European lawmakers listen to U.S. Vice President Kamala Harris, displayed in screens, during a plenary to mark the International Women's Day at the European Parliament in Brussels, Belgium, 08 March 2021.  EPA/FRANCISCO SECO / POOL

Bruxelas, 17 mar 2021 (Lusa) -- A eurodeputada Sophie In't Veld considerou hoje que a União Europeia (UE) e os Estados Unidos têm "grande dificuldade" em defender as suas democracias de desinformação originada internamente, por ser amplificada por alguns dos seus líderes.

"Não é preciso que as redes sociais funcionem como um amplificador [de desinformação] quando se tem o Presidente dos Estados Unidos a dizer exatamente a mesma coisa. Isso é um problema: vemos que, tanto nos Estados Unidos como na UE, temos uma grande dificuldade em defender a democracia quando é alvo de ataques internos", defendeu a eurodeputada.

A eurodeputada do grupo Renew Europe (Liberais) falava numa conferência organizada pelo Parlamento Europeu (PE) e intitulada "O dilema da desinformação: como responder e regular sem minar a democracia?".

Frisando que a desinformação "não é um fenómeno novo" -- e que, se se olhar para a História, ver-se-á que as "histórias mais mirabolantes" são bem recebidas pelas pessoas --, a eurodeputada referiu que, quando se aborda a desinformação, há uma tendência para se "focar obsessivamente nas redes sociais".

"Estamos a negligenciar um par de grandes elefantes na sala, que são as pessoas e as fontes que, na realidade, consideramos serem legítimas -- pessoas como chefes de Estado ou de Governo, como Donald Trump [ex-Presidente dos Estados Unidos] ou Viktor Orbán [atual primeiro-ministro da Hungria], e muitos outros -- que dizem muitas asneiras e são, na realidade, muito próximas das fontes de 'fake news' nas redes sociais", sublinhou.

Sophei In't Veld argumentou assim que "muitas das forças democráticas" nos dois blocos, "independentemente das cores a que pertencem", veem-se "tentadas" a amplificar uma "narrativa política e antidemocrática", de maneira a posicionarem-se "fora do sistema democrático" e a apresentarem-se como 'outsiders'.

"Se olharmos para o meu próprio país [Holanda], vejo como políticos de alto nível estão a espalhar caricaturas da UE, caricaturas de certos países da UE, [caracterizando] certas nacionalidades como sendo preguiçosas ou fraudulentas -- enquanto nós, holandeses, trabalhamos sempre muito e somos honestos -- e observei que, mesmo no debate público holandês, estas caricaturas, por não estarem a ser desmentidas por ninguém, tornaram-se uma verdade", sublinhou.

Ao papel dos líderes na amplificação da desinformação, a eurodeputada acrescentou também o papel que os órgãos de comunicação tradicionais desempenham na propagação de desinformação, reiterando que "as redes sociais são influentes", mas que o seu alcance "não é tão grande como o de 'medias' tradicionais como a Fox News".

"Se olharmos para [a maneira] como as autoridades na Polónia e na Hungria capturaram os órgãos de comunicação públicos e os transformaram em órgãos de comunicação estatais, vemos que se tornaram num grande amplificador [de desinformação]", destacou.

A eurodeputada sublinhou assim que a UE tem de ser "muito mais vocal e corajosa" nestes dois aspetos, e deixar de lado o que considera ser uma "certa hipocrisia" da luta europeia contra a desinformação.

"Estamos sempre a falar de influências externas e ficamos completamente calados sobre os elementos dentro do nosso próprio sistema que estão a tentar quebrar a democracia por dentro. Considero que a Comissão Europeia é demasiado fraca, demasiado tímida e está demasiado relutante em agir. (...) Se não tivermos a coragem de ser vocais, então o que aconteceu na Hungria nos últimos dez anos irá continuar a acontecer, e podemos ter todas as políticas contra a desinformação do mundo, não irá ajudar", defendeu.

Também presente na conferência, o ex-diretor da Agência de Cibersegurança e Segurança de Infraestruturas do Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Christopher Krebs - um dos principais responsáveis pela luta contra a desinformação durante as eleições presidenciais norte-americanas de 2020 -- lembrou que o facto de "um dos partidos não aceitar o resultado das eleições" ajudou a espalhar desinformação.

"Na democracia, são necessários dois partidos com vontade: o objetivo de uma eleição não é o de convencer os vencedores que ganharam, mas os perdedores que perderam. E, nesse esforço, é preciso haver um partido que quer jogar de maneira honesta e segundo as regras. Não tivemos isso nestas eleições", defendeu.

Christopher Krebs sublinhou assim que as eleições de 2020 não foram "a primeira campanha de desinformação", nem vão ser a "última", e que a capacidade de espalhar 'fake news' vai continuar a ser "um instrumento na caixa de ferramentas" que certos atores utilizam para explorar temas que criam divisões na sociedade.

"É preciso ter em consideração que isto não é só sobre eleições, é sobre todos os outros aspetos que criam divisão na nossa sociedade", alertou.

Krebs considerou ainda que o assalto ao Capitólio, nos Estados Unidos, "irá servir de toque de chamada e de grito de guerra para extremistas de direita em todo o mundo, incluindo na Europa".

"Por isso, temos de ter muito cuidado sobre a maneira como permitimos que a (...) ideia de que as eleições foram roubadas continua a espalhar-se, temos de ser vocais contra aqueles que a espalham e responsabilizá-los", concluiu.

 

Tiago Almeida