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‘Fake News’: Uma coisa é o erro jornalístico, outra é uma mentira — diretor TSF (C/ÁUDIO E C/VÍDEO)

*** Serviços áudio e vídeo disponíveis em www.lusa.pt ***



Lisboa, 24 (Lusa) -- Os jornalistas também cometem erros, mas "uma coisa é o erro jornalístico, outra coisa é uma mentira", distingue o diretor da rádio TSF, reconhecendo que "as pessoas não têm capacidade, ainda, para as distinguir".


"Hoje é frequente ouvir-se as pessoas dizerem 'não, não, é verdade, porque eu ouvi na net', que é uma coisa muito difícil de desmontar. As pessoas acreditam piamente naquilo, não percebendo que ler na 'net' no site da TSF ou ler na 'net' num 'post' de Facebook são realidades completamente diferentes", realça Arsénio Reis.


"O grande problema é que, de facto, as pessoas não têm capacidade, ainda, para as distinguir", lamenta, assinalando a "iliteracia" mediática dos cidadãos.


Em entrevista à Lusa, o responsável editorial da rádio privada detida pelo Global Media Group, que está prestes a fazer 30 anos, diz que a discussão sobre o assunto "é diária" na redação, mas tal não significa que as empresas e os jornalistas se tenham sabido proteger de "um problema muito complicado de resolver".


Recuando ao passado, Arsénio Reis não tem dúvidas em dizer que o jornalismo perdeu crédito e que os próprios jornalistas têm nisso alguma responsabilidade. "Devíamos ter-nos preocupado há mais tempo", admite.


Arsénio Reis assume que prefere falar em "intoxicação" do que em "fake news" -- termo que a Lusa adotou, simplesmente porque é o mais utilizado, mas que não deve ser traduzido como "notícias falsas", porque uma notícia não pode, por natureza, ser falsa, mas como "notícias falsificadas", o que já pressupõe uma intenção de desinformar ou manipular.


"Não há notícias mentirosas, as notícias mentirosas são mentiras. Nem sequer aceito o conceito e acho que ninguém na profissão o deveria aceitar", contesta o diretor da TSF.


As "notícias mentirosas" são "perigosas", porque "põem todos os dias em causa" o trabalho dos jornalistas e das empresas de informação, reconhece.


Porém, importa assinalar que todos cometemos erros, incluindo os jornalistas. "Mas uma coisa é o erro jornalístico e outra coisa é uma mentira ou uma 'fake news'", distingue. No primeiro caso, quem "for atingido ou lesado" pelo erro jornalístico tem ao seu dispor instrumentos para se defender, como direito de resposta, entidades reguladoras, tribunais.


"As pessoas hoje confundem, de alguma forma, aquilo que é a produção de trabalho jornalístico com algumas das informações que circulam livremente, e sem cumprirem qualquer critério jornalístico, no mundo 'online', em particular nas redes sociais, como sabemos, mas também nalguns sites, e em alguns deliberadamente", aponta.


Perante isto, só há uma solução: "voltar aos princípios básicos", identifica. "Não é verdade que tenhamos mudado [os procedimentos internos]. Admito que tenhamos hoje mais cuidado com o contraditório do que tínhamos. Admito que tenhamos hoje mais atenção a algum tipo de 'notícias' menos 'normais', prevendo a possibilidade de elas serem, efetivamente, uma anormalidade. Mas a prática que temos, jornalística, não mudou. E, aliás, acho que um dos segredos da profissão é voltar aos princípios básicos. Se conseguirmos respeitar esses, correremos menos riscos", defende.


"O contraditório é, para mim, a grande missão do jornalismo. Nós não defendemos causas, ou raramente defendemos causas, mas devemos fornecer às pessoas as armas para que elas possam tomar as suas decisões. Isso implica ouvir versões opostas, ouvir várias opiniões e depois permitir que as pessoas possam, efetivamente, retirar as suas conclusões", sustenta.


Por outro lado, é hoje mais difícil para os órgãos de informação "ter os meios essenciais para, em cada um dos casos, (...) apurar a veracidade de uma determinada informação", admite.


"Isso é preocupante, porque as redações estão cada vez mais magras, para não dizer outra coisa, e têm cada vez menos meios", observa. Ou seja, a redação da TSF pode continuar a fazer "um esforço diário e permanente" para autenticar a informação que veicula, mas não tem recursos humanos que possa dedicar exclusivamente ao combate contra a desinformação viral.



SBR // JPF


Lusa/Fim