Informação engloba inteligência artificial e trabalho pode ser alterado – especialistas
Lisboa, 12 mai 2021 (Lusa) -- A inteligência artificial (IA) é já uma parte integrante da esfera da informação e pode mesmo substituir parte do trabalho dos jornalistas e historiadores, mantendo-se estes profissionais com as principais responsabilidades, segundo um grupo de especialistas.
Presente na sessão "IA, Desinformação, Pluralismo e Democracia", organizada no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, Jürgen Heissel, da Organização para a Segurança e Cooperação da Europa (OSCE), apontou que hoje "é claro que a inteligência artificial é parte da esfera da informação", ressalvando que esta não será a solução para todos os problemas.
Segundo este responsável, a IA não está a ser utilizada de uma forma transparente e é necessário avaliar o impacto da utilização desta ferramenta na moderação do conteúdo e as possíveis desvantagens para a população marginalizada.
"É precisa uma abordagem holística. Precisamos de um jornalismo de investigação de qualidade e temos que avalizar fatores como a sustentabilidade económica da comunicação social, ética e a literacia", acrescentou.
Por sua vez, o fundador do partido Livre, Rui Tavares, disse acreditar e esperar que a inteligência artificial consiga substituir a parte "aborrecida" do trabalho dos jornalistas e dos historiadores.
Referindo-se à problemática das 'fake news' (desinformação), o também historiador lembrou que "no século XVIII algumas pessoas partilhavam receitas de medicamentos falsos" e que foi definido que isso não deveria fazer parte da "esfera pública", uma vez que "era danoso", continuando hoje a ser ilegal "a disseminação de notícias sobre saúde pública".
No mesmo sentido, o copresidente executivo da Factmata, empresa que se dedica a ajudar organizações a conhecer os riscos do 'online', Antony Cousins, disse que a IA é, atualmente, "vista como o apocalipse", notando que "há atividades que vão ser substituídas, o que não implica que as pessoas não façam a parte mais valiosa" do seu trabalho.
"Poupar tempo e dinheiro é bom e a inteligência artificial ajuda", vincou.
Antony Cousins afirmou ainda que é impossível impedir a difusão de conteúdos danosos, tendo em conta que existem milhares de milhões de euros envolvidos nessas campanhas e que os 'plug-ins' e os alertas também não são uma solução.
Para o copresidente executivo da Factmata, "a verificação dos factos é importante", nomeadamente no âmbito dos debates presidenciais ou nas eleições, mas não é uma solução que possa ser utilizada no dia a dia.
"A única solução é que as organizações e os indivíduos sejam responsáveis por aquilo que difundem", concluiu.
Já o presidente do 'Information and Democracy Forum', Christophe Deloire, assegurou que os atuais responsáveis pelo espaço digital, que vão criar um código de conduta, "não são necessariamente pessoas que pensam de acordo com as organizações democráticas".
Deloire referiu ainda ser necessário criar um "sistema de salvaguardas para a área editorial", à semelhança do que aconteceu, no passado, para o "debate político, pluralismo, troca de informações e independência".
O diretor do departamento da Sociedade de Informação do Conselho da Europa, Patrick Penninckx, por seu turno, sublinhou que a preservação da liberdade de expressão "é fundamental".
Nesse sentido, conforme apontou, todas as regulamentações produzidas têm de ser proporcionais e democráticas.
"No Conselho da Europa, criámos, há um ano, um comité de peritos que lida com a inteligência artificial. Estamos a tentar ver, dentro do quadro dos valores europeus e do Estado de direito, até que ponto o sistema de inteligência artificial deve ser regulamentado", adiantou.
Pedro Emídio