Itália/Eleições: Incerteza após subida histórica das forças antissistema
Roma, 05 mar (Lusa) -- Uma subida histórica das forças antissistema, eurocéticas e de extrema-direita, maioritárias em votos e assentos nas legislativas de domingo em Itália, está a abalar o país, mergulhando-o na incerteza política.
"Pela primeira vez na Europa, as forças antissistema venceram", resume o editorial do diário La Stampa.
A coligação formada pela Força Itália, de Silvio Berlusconi, a Liga do Norte e o pequeno partido Irmãos de Itália obteve cerca de 37% dos votos, segundo resultados parciais, quando estão contados dois terços dos boletins de voto.
Mas dentro desta coligação, é a Liga do Norte, de Matteo Salvini, formação eurocética e anti-imigração, aliada de Marine Le Pen (do partido de extrema-direita francês Frente Nacional) na Europa, que ocupa a liderança da corrida eleitoral.
E se esta aliança vencer em termos de assentos parlamentares - o que parece improvável à luz dos resultados parciais -, Matteo Salvini, que prometeu expulsar centenas de milhares de imigrantes "clandestinos", ficará em posição de exigir o cargo de primeiro-ministro.
Os antissistema do Movimento 5 Estrelas (M5S) obtiveram, por sua vez, uma subida histórica, tornando-se o partido mais votado em Itália, com quase 32% dos votos, alguns meses após a vitória do Brexit no Reino Unido e de Donald Trump nos Estados Unidos.
Agora, "toda a gente terá de falar connosco", congratulou-se um dos seus dirigentes, Alessandro Di Battista, após uma campanha dirigida contra a corrupção e a "casta" política italiana.
Silvio Berlusconi, que se tinha apresentado em Bruxelas como o único baluarte contra os populistas e as forças anti-euro, perdeu, portanto, a aposta.
Nigel Farage, ex-dirigente do Ukip, partido britânico pró-Brexit, felicitou no Twitter os seus "colegas" do M5S.
O movimento, fundado pelo ator cómico Beppe Grillo em 2009, tinha há surpreendido ao recolher 25% dos votos nas últimas legislativas, em 2013, e garante agora uma posição central no futuro parlamento, a confirmar-se o seu resultado no escrutínio.
Por seu turno, o Partido Democrata (PD, de centro-esquerda) de Matteo Renzi confirmou nas urnas o mau resultado previsto pelas sondagens, com um resultado inferior a 20% dos votos, ou seja, menos metade que o obtido nas eleições europeias de 2014.
A ausência de uma maioria da coligação de direita, a confirmar-se, obrigará os líderes políticos italianos a cálculos e negociações que se anunciam longas e complexas.
Uma aliança entre os populistas do M5S e da extrema-direita da Liga do Norte é a única combinação possível para obter uma maioria parlamentar, à luz dos resultados parciais -- uma hipótese até agora categoricamente rejeitada pelos dirigentes de ambas as formações.
"Os vencedores desta batalha eleitoral são Matteo Salvini e Luigi di Maio (do M5S)", mas "isso não conduz a qualquer forma de governabilidade", assegura hoje o editorial do La Stampa.
Nas próximas semanas, caberá ao Presidente italiano, Sergio Mattarella, avaliar os resultados e confiar um "mandato exploratório" àquele que lhe parecer em condições de obter uma maioria no parlamento.
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