Mais de três dezenas de iniciativas de literacia para os media em Portugal – relatório
Lisboa, 18 abr 2023 (Lusa) - Mais de três dezenas de iniciativas na área da literacia para os media em Portugal foram identificadas no relatório do consórcio Iberifier hoje divulgado, o qual faz o 'estado de arte' atual do tema.
"Tentámos fazer aqui foi uma espécie de súmula de tudo aquilo que se está a fazer a nível das literacias hoje em dia", ou seja, "o estado de arte" da literacia para os media, diz à Lusa o investigador Miguel Paisana, que participou no estudo.
A publicação do relatório "Literacia para os media: Horizontes concetuais e mapeamento de atores e iniciativas em Portugal e no mundo", elaborado por investigadores do Observatório de Comunicação (Obercom), em parceria com o Observatório Ibérico de Media Digitais e Desinformação Iberifier, antecede o VI Congresso Literacia, Media e Cidadania - Transição Digital e Políticas Públicas.
O congresso, organizado pelo GILM -- Grupo Informal de Literacia Mediática, realiza-se nos dias 21 e 22 de abril na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa.
O relatório está divido em três partes, sendo que a primeira diz respeito ao conceito de literacia, no qual é referido que um estudo internacional do ano passado, "que analisou 400 artigos, identificou 258 definições".
"O facto de haver tantos conceitos diferentes resulta também do facto de haver tantos atores envolvidos, tantas iniciativas", prossegue o investigador da Obercom e do CIES - ISCTE.
Os investigadores identificaram "mais de três dezenas de iniciativas na área da literacia para os media em Portugal", refere o documento, salientando que "duas dezenas de entidades estão a promover direta ou indiretamente a literacia para os media, explorando múltiplas facetas dentro da literacia".
Identificaram ainda "uma dezena de projetos de investigação, pesquisa, ângulos e modelos de atuação originais".
"Ao fazermos este levantamento nós procurámos encontrar tudo aquilo que está a acontecer hoje em dia, sabendo que muitos dos projetos e atores que nós elencamos aqui são eles próprios já consequência de projetos passados", acrescenta.
Entre os exemplos apontados pelo relatório está o projeto de investigação "On & Off Atmospheres of Disconnection", desenvolvido pela Universidade Lusófona, que "está a explorar, recorrendo a uma pesquisa etnográfica, o campo da desconexão digital".
O consórcio Iberifier, da qual a Lusa é parceira, "criou manuais de literacia para formadores e formandos que têm servido de base aos 'workshops' de 'Literacia Digital em ação contra a desinfomedia' ministrados a jornalistas, e entre as suas linhas de pesquisa está o impacto da desinformação", é apontado no relatório.
Outro exemplo é o Media Trust Lab, implementado pelo LabCom Comunicação e Artes, que junta a Universidade da Beira Interior (UBI) e a Universidade de Coimbra e estuda a desinformação em contextos de proximidade.
Questionado sobre como Portugal compara com os outros países, o investigador afirma que Portugal "está bastante a par daquilo que se passa pela Europa e não só".
Ou seja, "é bastante bom, não só uma grande consciência de resposta das entidades oficiais, seja do Governo, até partidos políticos", entre outro, e "depois os próprios media", acrescenta o investigador que também faz parte do Iberifier.
O relatório dá os exemplos, entre os agentes que promovem a literacia para os media em Portugal, a Direção Geral da Educação (DGE), nomeadamente através da Direção de Serviços de Projetos Educativos (DSPE) e a Equipa de Recursos e Tecnologias Educativas (ERTE), bem como também da Rede de Bibliotecas Escolares, que tem realizado "múltiplas ações" dirigidas aos ensinos pré-escolar e básico.
No que diz respeito à atuação junto de diferentes públicos, dá o exemplo da Associação Literacia para os Media e Jornalismo (ALPMJ), que "deu mais um passo no último ano".
A entidade, "que começou por formar jornalistas, que pudessem formar professores e em parceria desenvolver atividades de literacia nas escolas, começou, em 2022, a fornecer 'workshops' a maiores de 65 anos".
Para os mais novos existe a Rádio Miúdos, estação produzida em colaboração com crianças que transmite diariamente e "dinamiza diversas atividades" de literacia para os media.
O Observatório de Cibersegurança oferece quatro cursos, entre os quais cidadão ciberinformado.
Também alguns media criaram projetos nesta área para crianças e jovens, como são os casos de o Público na Escola ou a iniciativa True, em parceria com a Universidade de Aveiro.
Os 'webinares' da Visão Júnior, o Expressinho, o MedialLab, associado do JN e DN, e o "Combate às Fake News" da Lusa são outros dos exemplos.
Inclui ainda experiências desenvolvidas em outros países, entre os quais o Centre de Liaison de l'Enseignement et des Médias d'Information, agência do ministério da Educação francês, que organiza um concurso que coloca jovens a participar numa investigação jornalística.
Entre os projetos de empresas privadas dirigidas aos públicos mais jovens, o relatório dá o exemplo da Meta (Facebook) e Google.
"As próprias plataformas também já perceberam que este é um tema tópico a nível do ecossistema dos media", pelo que elas próprias "têm interesse neste tipo de iniciativas", remata Miguel Paisana.
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