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MediaLab: Alegada fraude potenciada pelo Chega no X atingiu mais de 733 mil

Açorianos exercem o seu direito de voto para as eleições regionais dos Açores na junta de freguesia de Fajã de Baixo, em Vila Franca, Açores. 04 de Fevereiro de 2024. Onze forças políticas, incluindo três coligações, disputam hoje os 57 lugares do parlamento açoriano nas legislativas regionais, que decorrem cerca de oito meses antes do previsto. EDUARDO COSTA/LUSA

Lisboa, 07 mar 2024 (Lusa) – O Chega e André Ventura potenciaram, no X (ex-Twitter), as publicações sobre a alegada ameaça de fraude eleitoral, atingindo mais de 733 mil pessoas, segundo uma análise do MediaLab.
Entre 26 de fevereiro e 05 de março, o MediaLab do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL) identificou 160 publicações sobre a suspeita lançada pelo Chega, originada pela publicação no X, feita por um militante do Bloco de Esquerda (BE).
Questionar eleições “através de rumores e conteúdos desinformativos” é um dos elementos que mais preocupam os investigadores “em relação ao impacto da desinformação na democracia”, dizem os investigadores do MediaLab.
A primeira denuncia do ‘tweet’ do militante bloquista surgiu às 12:49 de 29 de fevereiro, mas o tema só “explodiu” na “bolha política” do X quatro dias depois, em 04 de março, quando Ventura e o Chega comentaram o tema, lê-se no relatório feito pela equipa do ISCTE, resultado de um projeto de parceria com a Lusa sobre as eleições nas redes sociais e os processos de desinformação na fase pré-eleitoral para as legislativas de domingo.
Se até esse dia e hora o número de publicações (20) que reforçavam “a narrativa da fraude eleitoral” atingiu 3.188 interações (soma de todos os “gostos”, comentários e partilhas), depois dos ‘posts’ de Ventura e do Chega tudo mudou.
Três publicações, duas de Ventura, que incluíam um vídeo em que explicava a alegada tentativa de fraude, e outro do Chega, somaram em poucas horas 4.700 interações. No conjunto, estas três publicações “alcançaram mais de 600 mil visualizações” entre 29 de fevereiro e 05 de março, segundo o MediaLab.
No dia seguinte, em 05 de março, Ventura e o Chega fazem novas publicações apontando “casos semelhantes”, somando mais 2.238 interações e 133 mil visualizações, o que soma mais de 733 mil visualizações.
No total, nestes sete dias, foram identificadas 69 publicações que “reforçam a narrativa de fraude nas futuras eleições”, alcançando 12.024 interações. Em sentido contrário, as 37 publicações que “desvalorizam a narrativa alcançaram 2.378 interações”.
Em síntese, no X “as contas que veicularam a narrativa da potencial fraude eleitoral foram sempre mais numerosas e com mais impacto (medido em interações) do que aquelas que desvalorizavam essa narrativa”.
O tema passou das redes sociais para a campanha num jantar-comício do Chega no sábado. André Ventura disse estar em curso uma tentativa para "desvirtuar o resultado" das eleições, que passaria por "anular os votos" do seu partido.
Aos jornalistas, mostrou uma publicação no X, que atribuiu a um “membro do BE” que disse fazer parte de uma mesa de voto de Aveiro, onde se lia “Mesas de voto ‘here we gooo’, votos do Chega e AD serão considerados nulos”.
O Bloco de Esquerda considerou tratar-se de uma “piada de mau gosto”, a coordenadora, Mariana Mortágua, rotulou Ventura de “aprendiz de Bolsonaro” e o membro do BE foi retirado da mesa. Contactada pela Lusa, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) começou por não ter em registo de qualquer queixa, mas depois abriu um processo de averiguações.
Apesar dos desmentidos, o presidente do Chega manteve as suspeitas e chegou a pedir a demissão do porta-voz da CNE.
As contas do Chega e de Ventura no X foram, novamente, o “elemento impulsionador” das publicações e interações na rede sobre a alegada fraude, tal como aconteceu com outros casos – o dos tiros em Famalicão que, afinal, eram ‘rateres’ de motores de motas, no início da campanha eleitoral.
O MediaLab detetou ainda outro efeito, o fenómeno da imitação, dado que tanto à esquerda como à direita identificaram-se publicações que, em forma de sátira ou não, “replicaram o ‘post’ original” do BE.
Alguns utilizadores “até começaram a fazer ameaças de interferência com boletins de voto” em sentido contrário, “nalguns casos exibindo o que parecem ser fotos reais de boletins adulterados”.
Outro traço deste caso remete para algo que é “um padrão recorrente” na divulgação de “conteúdos políticos, sobretudo quando eles alimentam rumores ou desinformação”: fazer referência a “rumores e avisos” que circulam no Whatsapp”.

NS // JPS
Lusa/fim