Observatório Iberifier alerta para ‘revolução’ e ameaças da IA nos media

Lisboa, 10 jan 2024 (Lusa) -- O observatório Iberifier admite que a Inteligência Artificial (IA) é uma tendência que vai, até 2030, 'revolucionar' os media em Portugal e Espanha, aplicada sobretudo a resumos e traduções, e alerta para as ameaças da desinformação.
A "evolução do ecossistema mediático ibérico entre 2025 e 2030 será caracterizada pela integração generalizada da IA, com aplicações extensivas na recolha, produção e distribuição de conteúdos", lê-se na análise das tendências e inovações do ecossistema mediático em Portugal e Espanha 2025/2023, do Observatório Ibérico de Media Digitais e da Desinformação (Iberifier), a que pertence a agência Lusa, e que também alerta para os riscos.
Mais de 90% dos inquiridos no estudo, peritos e responsáveis de media dois países, "defende que o desenvolvimento da IA vai criar uma ameaça acrescida à informação" por que cria "desinformação mais sofisticada e difícil de verificar".
Será a "grande disrupção tecnológica a curto e médio prazo para todos os setores dos media", que leva a uma segunda tendência identificada pelo Iberifier -- a necessidade de mais verificação ('fact checking').
Segundo o observatório, é necessário desenvolver "programas de formação eficazes" para que jornalistas e verificadores consigam ferramentas para "compreender a utilização da tecnologia" e "promoverem a literacia mediática".
O estudo aponta ainda uma percentagem relevante -- 17% - de inquiridos que não tem uma posição clara sobre a questão da inteligência artificial, havendo ceticismo sobre a forma de retirar o máximo partido destas ferramentas.
A grande maioria dos responsáveis dos média considera que, na resposta, se deve "privilegiar a produção de formatos audiovisuais" mais "fáceis de entender" e de "maior impacto", e também dar formação em ferramentas de IA.
Na análise da maioria dos especialistas e responsáveis de media de Portugal e Espanha admite-se que estas novas ferramentas serão sobretudo aplicadas "a processos intermédios de produção: resumos e traduções".
Estas tendências foram delineadas pelo Iberifier a partir de entrevistas a 71 peritos sobre 16 áreas, da IA às novas narrativas, das redes sociais à 'big data', da organização laboral ao marketing, que resultaram num texto síntese submetido depois à opinião de 101 diretores e responsáveis de media dos dois países.
Independentemente de todas as cautelas, a esmagadora maioria dos gestores (94%) acredita que a "IA irá reforçar a experiência do utilizador, personalizando conteúdos e prevendo necessidades", transformando os "paradigmas da produtividade e automação de tarefas".
Redes sociais cada vez mais importantes na distribuição
As redes sociais vão aumentar o seu domínio na distribuição de notícias, segundo um relatório do observatório Iberifier, que conclui que os media terão que adaptar as suas estratégias num cenário de "saturação de informação".
Os media, lê-se no estudo, terão de adaptar as suas estratégias de comunicação "a um contexto de alteração de algoritmos e de saturação de informação, mais radical que nunca".
Em entrevista à Lusa, Miguel Crespo, jornalista e investigador do observatório, afirmou que o consumo de notícias ou conteúdos é cada vez mais fragmentado, multicanal, o que não está diretamente relacionado com a IA.
É uma tendência que tem vindo a desenvolver-se "desde que há Internet, que aumentou exponencialmente com as redes sociais e que, com a personalização das plataformas e que inteligência artificial vai ajudar ainda mais, esse conteúdo será cada vez mais multicanal".
"Eu leio uma informação num 'site', vejo um TikTok, vejo no Instagram, vejo no X com televisão, ouço rádio e tudo isto é cada vez mais misturado", descreve.
O que acontece nestes consumos de redes sociais, mas não só, acrescenta, há cada vez "mais vídeos curtos, vídeos verticais, porque a maior parte dos consumos são feitos no telemóvel".
Este "vídeos verticais" são uma evolução recente com o TikTok, que "veio quase destruir a narrativa audiovisual que o Instagram criou de coisas muito elaboradas para vídeos muito curtos, vídeos com lógicas explicativas, com um tom mais natural, mais acessível e sem uma construção da realidade com filtros", explicou.
O Iberifier é um projeto que visa combater a desinformação e integra 23 centros de investigação e universidades ibéricas, as agências noticiosas portuguesa, Lusa, e espanhola, EFE, e 'fact checkers' como o Polígrafo e Prova dos Factos - Público, de Portugal, e Maldita.es e Efe Verifica, de Espanha.
O observatório produziu um relatório de análise das tendências e inovações do ecossistema mediático em Portugal e Espanha 2025/2030, que hoje é divulgado, e conclui que os media vão passar pela 'revolução' da IA, que vai exigir fazer mais verificação ('fact checking') no combate à desinformação.
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