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Pequim intensifica esforços para favorecer oposição em Taiwan – analistas

Pequim, 31 dez 2023 (Lusa) -- Pequim está a intensificar os seus esforços para favorecer o Kuomintang, partido da oposição em Taiwan favorável a uma melhoria dos laços com o continente chinês, nas próximas eleições presidenciais e legislativas do território, segundo analistas.


Os esforços de Pequim incluem campanhas de desinformação coordenadas nas redes sociais, pressão militar ou incentivos económicos.


William Lai, atual vice-presidente de Taiwan e candidato do Partido Democrático Progressista, tradicionalmente pró - independência, lidera as sondagens, contra o Kuomintang (KMT) e o Partido do Povo de Taiwan (TPP), que inicialmente iam disputar as eleições numa frente unida, mas não chegaram a acordo sobre o seu candidato comum à presidência.


Lai é visto pelo regime chinês como um separatista e um defensor da independência formal do território. Pequim advertiu os eleitores da ilha que uma vitória de Lai vai empurrar o território "para a beira da guerra".


"A busca pela 'independência de Taiwan' implica guerra", avisou esta semana Chen Binhua, porta-voz do Gabinete dos Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês.


Esta é também a mensagem do Kuomintang, cujo candidato Hou Yu-ih disse aos apoiantes recentemente que "toda a nossa geração perderá tudo aquilo por que lutámos durante a nossa vida [se Lai ganhar]".


"A China vai fazer tudo ao seu alcance para ajudar o Kuomintang a ganhar, mas penso que não sabem bem como o fazer", afirmou Kharis Templeman, investigador da Instituição Hoover da Universidade de Stanford.


Um relatório do Global Engagement Center (GEC), do Departamento de Estado dos Estados Unidos, delineou as táticas multifacetadas de Pequim, que, para além da tradicional manipulação dos órgãos de comunicação, incluem a criação de personagens e narrativas 'online', fabricadas com o objetivo de influenciar a opinião pública, ou a oferta de benefícios, como viagens gratuitas à China, a quem estiver disposto a propagar opiniões pró -- Pequim.


Esta semana, um homem foi acusado de violar as leis contra a interferência eleitoral de Taiwan ao organizar viagens de grupo à China, parcialmente financiadas pelos governos locais chineses, durante as quais os participantes foram convidados a votar na preferência de Pequim nas eleições de 2024.


As relações entre Pequim e Taipé deterioraram-se desde que Tsai Ing-wen, do DPP, assumiu o poder, em 2016. Tsai enfatizou uma identidade nacional taiwanesa distinta da China e recusou-se a reconhecer o Consenso Pequim - Taipé de 1992, que afirma a unidade da ilha e do continente chinês no âmbito do princípio 'uma só China'.


O Governo chinês interrompeu então os contactos oficiais com Taipé e passou a enviar navios e aviões militares para áreas ao redor da ilha. O continente chinês lançou também uma campanha para isolar o território internacionalmente: sete países cortaram desde então os laços com Taipé e passaram a reconhecer Pequim como o único governo legítimo de toda a China.


"A quebra do diálogo com Taipé não só afetou os laços, como também catalisou uma campanha sofisticada para influenciar a paisagem política de Taiwan", escreveu Dennis Weng, professor no Departamento de Ciência Política da Universidade Estatal de Sam Houston, nos EUA.


"Esta estratégia desenrola-se sobretudo durante as eleições de Taiwan, quando Pequim pressiona para orientar a narrativa, reforçar o sentimento pró-Pequim ou simplesmente injetar uma mistura tóxica de caos e desinformação no discurso político de Taiwan", acrescentou.


A China continental passou também a violar sistematicamente um acordo tácito entre Pequim e Taipé de não infringirem a linha mediana que divide o estreito de 110 milhas de largura entre ambos, através do envio quase diário de navios e aviões de guerra.


As manobras militares realizadas pela República Popular da China ao redor de Taiwan não parecem, no entanto, preocupar a população local, que já se acostumou à pressão constante de Pequim.


"Já é assim desde 1949", resumiu Kuo Tsanyu, gestor de produto na indústria de informação e equipamento informático, natural de Taipé. "Nada realmente mudou", disse à agência Lusa.


Kuo Tsanyu acrescentou que existe também um sentimento de incapacidade que motiva essa despreocupação.


"Não temos hipótese de nos defender caso a China lance um ataque militar", apontou. "A não ser que outros países venham em nosso socorro, seremos unificados em breve".


 


JPI //APN


Lusa/Fim