A apresentar resultados para:
Ordem
Mais Recentes
Mais Recentes Mais Antigas
Data
Tudo
Na Última Hora Últimas 24 Horas Últimos 7 Dias Último Mês Último Ano Tudo Datas específicas

PERGUNTAS E RESPOSTAS: Ucrânia: As munições com urânio empobrecido que Kiev vai receber

Washington, 23 mar 23 (Lusa) -- A Rússia ameaçou intensificar os ataques à Ucrânia depois de o Governo britânico ter anunciado que iria fornecer um tipo de munição a Kiev que Moscovo afirma, falsamente, ter componentes nucleares.


Segunda-feira, o Ministério da Defesa britânico confirmou que irá fornecer à Ucrânia munições perfurantes contendo urânio empobrecido.


As munições mantêm algumas propriedades radioativas, mas não podem gerar uma reação idêntica à de uma arma nuclear, disse o analista político norte-americano Edward Geist, também especialista da RAND, uma organização de investigação que desenvolve soluções para desafios de políticas públicas.


No entanto, sustenta a AP, as munições, mesmo que não sejam armas nucleares, apresentam, de qualquer forma, riscos:



 


*** O que é o urânio empobrecido? ***



O urânio empobrecido é um subproduto do processo de criação do urânio enriquecido, mais raro, usado em combustível e armas nucleares.


Embora muito menos poderoso do que o urânio enriquecido e incapaz de gerar uma reação nuclear, o urânio empobrecido é extremamente denso -- mais do que o chumbo --, uma qualidade que o torna altamente atraente como projétil. 


"É tão denso e tem tanta força que continuará a atravessar a armadura [de um carro de combate ou de um tanque, por exemplo] e aquece de tal forma que pega fogo", sublinhou Gueist. 


Quando disparada, uma munição de urânio empobrecido torna-se "um dardo de metal exótico atirado a uma velocidade extraordinariamente alta", disse Scott Boston, analista sénior de defesa também ligado à RAND. 


Na década de 1970, o Exército dos Estados Unidos começou a fazer balas perfurantes com urânio empobrecido e, desde então, adicionou-o à blindagem composta de tanques para a fortalecer. 


Washington também adicionou urânio empobrecido nas munições disparadas pelo avião de ataque 'A-10' da Força Aérea, conhecido como o "matador de tanques". 


Os militares dos Estados Unidos ainda estão a desenvolver munições de urânio empobrecido, designadamente a bala perfurante 'M829A4' para o principal tanque de batalha 'M1A2 Abrams', disse Boston.


 


*** O que disse a Rússia? ***



Terça-feira, o Presidente russo, Vladimir Putin, alertou que Moscovo "responderia da mesma forma" ao Ocidente, "que está a começar a usar armas com 'componentes nucleares'".


Os britânicos "perderam o rumo", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, que alertou que este tipo de munições constitui "um passo para acelerar a escalada" no conflito. O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, foi mais longe na avaliação: "mais outro passo, e não restam já muitos".


A Casa Branca denunciou as alegações da Rússia como desinformação.


"Não se deixem enganar. Este é mais um espantalho que os russos estão a colocar numa estaca", afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby.


Segundo um funcionário da Casa Branca, que solicitou anonimato à AP, a Rússia também tem munições de urânio empobrecido, mas "não quer que a Ucrânia também as tenha".


Segunda-feira, o diretor do gabinete de imprensa do Pentágono, general Pat Ryder, afirmou que, pelo que sabia, os Estados Unidos não estão a enviar munições com urânio empobrecido do seu próprio arsenal para a Ucrânia.


 


*** Que riscos apresentam? ***



Embora as munições com urânio empobrecido não sejam consideradas armas nucleares, a emissão de baixos níveis de radiação levou a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) a pedir cautela no respetivo manuseamento e a alertar sobre os possíveis perigos de uma exposição.


O manuseamento de tal munição "deve ser reduzido ao mínimo, devendo ser usadas roupas de proteção", advertiu a AIEA, admitindo ser necessária uma "campanha de informação pública" para garantir maior segurança.


 "Isso deve fazer parte de qualquer avaliação de risco e essas precauções devem depender do objetivo e do número de munições usadas numa área", observou a AIEA.


A agência da ONU sublinhou que o urânio empobrecido é, acima de tudo, um produto químico tóxico, em oposição a um perigo de radiação, cujas partículas em aerossóis podem ser inaladas ou ingeridas.


Embora a maioria seja excretada novamente, algumas partículas podem entrar na corrente sanguínea e causar danos aos rins, onde, em altas concentrações, "podem causar danos e, em casos extremos, insuficiência renal".


Geist sublinhou que a radioatividade de baixo nível de uma munição com urânio empobrecido "é um 'bug', não uma característica" do projétil. Se os militares norte-americanos pudessem encontrar outro material com a mesma densidade, mas sem a radioatividade, provavelmente o fariam", acrescentou.


As munições com urânio empobrecido foram usadas na Guerra do Golfo de 1991 contra os tanques 'T-72' do Iraque e novamente na invasão do país, em 2003, bem como na Sérvia e no Kosovo. Os veteranos militares norte-americanos nesses conflitos questionaram se o uso desses projéteis causou doenças de que poderão estar a padecer.


Vyacheslav Volodin, presidente da câmara baixa do parlamento russo, disse que o fornecimento de cartuchos contendo urânio empobrecido pode levar a "uma tragédia à escala global, que afetará principalmente os países europeus".


Volodin disse que o uso dessas munições norte-americanas na ex-Jugoslávia e no Iraque levou à "contaminação radioativa e a um aumento acentuado de doenças oncológicas".


 


JSD // APN


Lusa/Fim