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Relatório: Mais de 1,6 mil milhões votaram em 2024, mas 40% das eleições foram contestadas

epa07604032 Electoral helpers empty a ballot box to count votes of the the European elections in Przemysl, Poland, 26 May 2019. The European Parliament election is being held by member countries of the European Union from 23 to 26 May 2019.  EPA/Darek Delmanowicz POLAND OUT

Estocolmo, 09 jun 2025 (Lusa) - Mais de 1,6 mil milhões de pessoas votaram em 74 países em 2024, mas em 40% das eleições houve disputa sobre os resultados e dúvidas sobre a transparência eleitoral, de acordo com um relatório hoje divulgado.

Um relatório do Instituto Internacional para a Democracia e Apoio Eleitoral (International IDEA) – produzido no âmbito do seu Projeto de Integridade Eleitoral - connclui que no super-ciclo eleitoral de 2024 a desinformação, reformas controversas, violência política e catástrofes climáticas desafiaram eleições de 74 países.

O relatório do International IDEA faz um retrato complexo destas eleições (que incluíram as legislativas antecipadas em Portugal, em 10 de março do ano passado): enquanto muitos processos eleitorais foram bem organizados e pacíficos, vários países enfrentaram retrocessos democráticos, desinformação generalizada, violência política e ameaças à integridade eleitoral.

Os dados recolhidos apontam duas questões centrais para entender as dificuldades detetadas nas eleições de 2024: o papel dos meios de comunicação e o financiamento das campanhas eleitorais, que os analistas dizem revelar que a situação global das democracias se agravou.

“Este ciclo eleitoral refletiu, sobretudo, a qualidade das instituições democráticas. Quando essas instituições não são sólidas, as eleições não são credíveis”, declarou o secretário-geral da International IDEA, Kevin Casas-Zamora, em entrevista à agência Lusa.

Casas-Zamora atribuiu ainda ao Presidente dos EUA, Donald Trump, a responsabilidade de em vários países, líderes políticos terem questionado os resultados eleitorais, depois de o líder republicano norte-americano ter negado os resultados das eleições de 2020, que perdeu para o ex-Presidente democrata Joe Biden.

“Se olharmos para os argumentos usados por forças políticas de vários países que puseram em causa os resultados eleitorais, vemos, ponto por ponto, o argumentário usado por Trump nos Estados Unidos”, disse o secretário-geral da IDEA.

O estudo conclui ainda que a cobertura dos meios de comunicação, em muitos contextos, revelou enviesamentos flagrantes, enquanto a influência do dinheiro nas campanhas favoreceu desproporcionalmente os candidatos com mais recursos, comprometendo o princípio de igualdade de condições.

Por outro lado, critica plataformas como Facebook e Instagram por abandonarem iniciativas de verificação de factos e acusa o proprietário da rede social X, Elon Musk, de envolvimento direto em processos eleitorais de vários países.

“É muito difícil ter eleições credíveis quando a liberdade de imprensa não existe, quando a liberdade de reunião está ameaçada, quando as instituições fundamentais para a democracia estão ausentes ou estão fragilizadas”, disse Casas-Zamora.

Para os analistas do International IDEA, um outro sinal preocupante em 2024 foi o uso instrumental das reformas eleitorais por governos incumbentes para reforçar o seu poder.

Em países como a Geórgia e a Tunísia, alterações legislativas cruciais foram aprovadas sem amplo consenso político ou em momentos estratégicos, limitando a transparência e o escrutínio público.

Apesar dos avanços registados em algumas regiões — como as mudanças pacíficas de poder em diversos países africanos —, o relatório documenta 17 eleições com indícios de fraude, incluindo compra de votos e manipulação de resultados.

O caso da Venezuela é apontado como exemplar destes problemas: neste país sul-americano, um sistema de votação bem desenhado foi bloqueado por irregularidades no momento da contagem de votos, gerando resultados que não refletem a vontade popular.

O documento relata ainda casos de violência política que marcaram este ciclo eleitoral, com candidatos que foram alvo de ataques na Mongólia, Eslováquia, Coreia do Sul, África do Sul e Estados Unidos.

Os analistas denunciam também que no México e no Paquistão grupos armados atuaram com impunidade, enquanto em Moçambique, a violência foi fomentada pela própria máquina do Estado.

Numa outra vertente, o relatório conclui que em 43 eleições nacionais, a desinformação foi usada como arma para minar a confiança pública e deslegitimar candidatos.

O fenómeno é agravado por ameaças híbridas — estratégias de interferência lideradas por atores estatais e não estatais — oriundas de países como China, Irão e Rússia, com ações que visaram diretamente eleições em nações da União Europeia (UE), bem como na Geórgia, Moldova, Taiwan, Ilhas Salomão e EUA.

Apesar dos receios iniciais, o uso de inteligência artificial nos processos eleitorais mostrou-se ainda muito limitado, sendo maioritariamente usado em sátiras e não em estratégias de manipulação direta da informação política.

Perante este retrato eleitoral de 2024, o relatório da IDEA Internacional deixa várias recomendações para proteger a integridade das eleições nos próximos anos: proteger a reforma eleitoral contra abusos políticos; investir nas capacidades das comissões eleitorais; monitorizar proativamente o ambiente informativo; garantir segurança para funcionários e eleitores; promover a cooperação interinstitucional, incluindo organismos estatais e organizações da sociedade civil.

Ricardo Jorge Pinto