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Relatório parlamentar sem provas de interferência da Rússia no referendo do ‘Brexit’

epa08462562 Anti Brexit protesters demonstrate outside parliament in London, Britain, 03 June 2020. Bank of England Governor Andrew Bailey has urged UK banks to step up 'no deal' Brexit plans, the Bank announced on 03 June.  EPA/ANDY RAIN

Londres, 21 jun 2020 (Lusa) - O Governo britânico demorou a identificar a ameaça russa e possível interferência no referendo de 2016 que ditou o 'Brexit', mas não existem provas de que isto tenha influenciado o resultado, conclui um controverso relatório parlamentar publicado hoje.

"O Governo demorou a reconhecer a existência da ameaça, a qual só percebeu após a operação de 'hack e leak' [pirataria informática e divulgação de documentos confidenciais] contra a Comissão Nacional Democrata [dos EUA], quando deveria ter sido identificada em 2014. Como resultado, o governo não tomou medidas para proteger o processo do Reino Unido em 2016", concluem os autores.

O relatório de 55 páginas da Comissão Parlamentar de Informação e Segurança era aguardado devido às suspeitas de possível interferência russa na política britânica, em particular na campanha do referendo de 2016 sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

Embora reconheça existir um debate sobre o efeito da propaganda pró-Brexit ou anti-UE da estação de televisão russa RT e do site Sputnik, e o uso de 'bots' [aplicação de software que simula ações humanas repetidas vezes de maneira padrão] e 'trolls' [pessoas usadas para provocar e desestabilizar uma discussão] nas redes sociais, afirma que "o impacto real de tais tentativas no resultado em si seria difícil - se não impossível - de provar".

No entanto, sugere que as autoridades britânicas deveriam fazer uma avaliação pós-referendo, tal como os EUA fizeram relativamente à interferência russa nas eleições presidenciais de 2016.

A publicação acontece num contexto de relações tensas entre Londres e Moscovo, e coincide com uma visita hoje à capital britânica do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo.

Na quinta-feira passada, o Reino Unido acusou "atores russos" de interferência durante a campanha para as eleições legislativas de dezembro passado ao divulgar na internet de documentos relacionados às negociações entre Londres e Washington sobre um futuro acordo de comércio pós-Brexit.

Londres também acusou os serviços secretos russos de estarem por detrás de ataques contra cientistas e instituições do Reino Unido, EUA e Canadá envolvidas na investigação de uma vacina contra o novo coronavírus.

O Kremlin negou veementemente as "alegações infundadas", feitas um dia depois de o Partido Conservador ter expulso o deputado Julian Lewis após este terçado eleito presidente da Comissão com os votos dos partidos da oposição, ignorando orientações para apoiar a eleição do colega Chris Grayling.

A Comissão é considerada uma das mais importantes no parlamento britânico devido ao papel na fiscalização das agências de informação e serviços secretos britânicos.

O relatório foi concluído e apresentado ao primeiro-ministro, Boris Johnson, em outubro passado, mas este invocou questões de segurança nacional para não publicá-lo antes das eleições de 12 de dezembro, as quais ganhou com maioria absoluta.

O deputado Trabalhista Kevan Jones, membro da comissão, qualificou hoje de falsas as razões para o atraso.

O relatório hoje publicado afirma que o Reino Unido é um alvo importante da campanha de desinformação russa devido à proximidade dos EUA e à influência junto dos aliados ocidentais para serem tomadas medidas contra a Rússia.

Mas também alerta para o risco da influência russa no Reino Unido, onde "governos sucessivos receberam de braços abertos os oligarcas e o seu dinheiro, fornecendo-lhes um meio de reciclagem de financiamento ilícito através da 'lavandaria' de Londres e acesso aos níveis mais altos de empresas e figuras políticas".

A investigação da comissão parlamentar, iniciada em 2017, teve com o objetivo abordar as preocupações sobre a interferência externa nas eleições de 2016 nos EUA e o impacto de campanhas de desinformação oriundas da Rússia.

A então primeira-ministra, Theresa May, acusou a Rússia de espalhar "histórias falsas" para "semear discórdia no Ocidente e minar as nossas instituições".

As relações entre Londres e Moscovo deterioraram-se desde que o ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha Yulia foram envenenados com um agente neurotóxico em Salisbury em março de 2018.

Os dois sobreviveram, bem como um polícia que foi contaminado, mas a britânica Dawn Sturgess morreu após ter encontrado o recipiente usado para transportar a substância.

As autoridades britânicas acusaram formalmente Alexander Petrov e Ruslan Boshirov, membros da agência de informações russa GRU.

A Rússia negou qualquer envolvimento, mas o caso desencadeou uma onda de expulsões cruzadas de diplomatas entre Londres e os seus aliados e Moscovo.

 

Bruno Manteigas