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REPORTAGEM: Europeias: Polónia prepara-se para guerra quando se reconecta à UE

*** Ana Matos Neves, da Agência Lusa ***



Varsóvia, 01 jun 2024 (Lusa) -- Entre campos militares para crianças, simulação de exercícios de defesa, apelos à construção de abrigos e aposta em segurança cibernética, a Polónia prepara-se hoje para a guerra tradicional e híbrida, quando retorna também ao Estado de direito europeu.


Após oito anos de poder ultraconservador, a Polónia é agora governada pelo executivo de centro-direita de Donald Tusk, que já implementou mudanças judiciais que valeram ao país o encerramento do processo aberto pela União Europeia (UE) por violação do Estado de direito.


Mas se há alterações no respeito pelas normas democráticas, certo é que a Polónia tem nos últimos anos aumentado a aposta na sua defesa e segurança 'online' e 'offline', não fosse a proximidade à Ucrânia, invadida pela Rússia desde fevereiro de 2022, e as constantes tentativas de ciberataques russos, que se vão tornando mais frequentes à medida que se aproximam as eleições europeias de 06 a 09 de junho.


A viver na Alemanha, a fotógrafa polaca Natalia Kepesz tem acompanhado à distância aquela que diz ser a aposta da Polónia em "fazer com que as crianças e os jovens aprendam a guerra", numa cobertura que lhe valeu há três anos o terceiro lugar no concurso mundial World Press Photo de retratos, precisamente com este trabalho fotográfico.


"Estamos a falar de campos militares durante as férias de verão, de clubes onde podem ir todos os fins de semana para a simulação de exercícios militares e estamos a falar de crianças que são demasiado novas para brincar com essas armas, de sete e oito anos até aos 16", diz Natalia Kepesz à agência Lusa em Varsóvia.


As fotografias da artista mostram crianças e jovens com uniformes camuflados, dentro de piscinas em exercícios de resistência, em tendas a simular campos militares ou deitadas no chão com sangue falso.


"Não eram crianças naquele momento", conta a fotógrafa sobre o momento em capturou estas imagens, assinalando que "eles estavam muito orgulhosos do que estavam a fazer e a pensar que era muito bom".


"Quando estudei na Polónia, nos anos 1990, isto não existia e fui assistindo à distância a estas iniciativas nacionalistas e patrióticas", afirma Natalia Kepesz à Lusa, esperando mostrar, com o seu trabalho, "que o foco deve ser na diplomacia e não na guerra".


Também em declarações à Lusa em Varsóvia, o vice-reitor para os assuntos militares da Universidade de Estudos de Guerra, coronel Dariusz Majchrzak, afirma aquela que é a mais alta instituição académica militar da Polónia (com formação superior para futuros oficiais e civis) tem vindo a "observar o que se passa na Ucrânia", dada a invasão russa do país, e a adaptar o seu plano de estudos para garantir preparação.


"Tentamos adaptar o nosso currículo, por exemplo, nos domínios da segurança nacional e preparar os nossos alunos para o sistema de segurança. Tentamos também incluir campos de treino nos nossos programas de ensino, realizar viagens de estudo a instituições importantes e prolongar o período de estágios", elenca Dariusz Majchrzak.


O coronel aponta a necessidade de ter conhecimentos sobre "locais de abrigo, se for necessário", depois de, esta semana, o vice-ministro polaco da Defesa, Cezary Tomczyk, ter defendido ser "importante criar locais antibomba" e que "todos saibam o que fazer se algo acontecer".


Financiada pelo Ministério da Defesa Nacional polaco, a Universidade de Estudos de Guerra está também atenta ao "fenómeno novo e ativo" das ameaças híbridas, com campanhas de desinformação, ciberataques e tentativas de sabotagem e interferência, nomeadamente por parte da Rússia.


Por a "situação estar a mudar tão rapidamente", Dariusz Majchrzak indica à Lusa ser "necessário começar a educar desde a mais tenra idade".


Por seu lado, o analista político e chefe de redação da Visegrad Insight, a principal plataforma de debate da Europa Central, afirma à Lusa em Varsóvia que este tipo de ameaças híbridas "já existem há 20 anos, as pessoas só não estavam a prestar atenção e, hoje, os efeitos já são generalizados na Europa".


Falando numa aposta em comunicação estratégica, para o combater, Wojciech Przybylski aponta que "o objetivo russo é o de criar divisão" para "avançar com o seu imperialismo".


No início de maio, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) disse estar "profundamente preocupada" com os recentes ataques de desinformação e interferência cibernética da Rússia contra a Polónia e outros países Aliados, garantindo ação "individual e coletiva".


A poucos dias das eleições europeias, teme-se que isso afete a votação.


De momento, dos quais 200 mil elementos das forças armadas polacas, cerca de 2.500 militares estão dedicados a gerir estes incidentes tecnológicos, quando a Polónia é um dos três países do mundo com mais ciberataques, com cerca de 40 mil por ano.


Esta preparação polaca para a guerra -- a tradicional e a moderna, híbrida -- faz-se numa altura em que "o atual governo está a tentar instalar medidas" relativas ao Estado de direito, após o encerramento na passada quarta-feira de um procedimento de Bruxelas, que durou seis anos, conclui Wojciech Przybylski.


Localizada no leste europeu, a Polónia faz fronteira com a Ucrânia, tendo sido um dos países na linha da frente a apoiar o povo ucraniano e as forças armadas ucranianas.



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Lusa/Fim