Sofia Moreira de Sousa: IA pode ser usada para detetar desinformação

Lisboa, 25 mai 2025 (Lusa) - A representante da Comissão Europeia em Portugal considera que a inteligência artificial (IA) "pode e deve" ser usada para detetar desinformação e apelou aos consumidores para participarem na consulta pública sobre esta tecnologia.
Em entrevista à Lusa, Sofia Moreira de Sousa afirmou que "há uma série de áreas em que a inteligência artificial traz um valor acrescentado", como é o caso "de detetar desinformação e quais são os atores que realmente espalham factos erróneos com o intuito precisamente de causar a confusão e de conduzir as pessoas a tomarem decisões com base em mentiras".
Contudo, a IA é "um instrumento" que tal como outros, como por exemplo um automóvel, também pode ser "usado para prejudicar".
Portanto, "tudo depende de que uso é que nós vamos dar a estes instrumentos", razão pela qual a "legislação é importante, o trabalho que está a ser desenvolvido, as propostas da Comissão Europeia, o trabalho do Parlamento e do Conselho", adianta a responsável.
"E aqui gostaria de apelar a todos os consumidores, a todas as pessoas, para participarem nos processos de consulta pública, temos agora a decorrer precisamente uma parte da legislação importante sobre a inteligência artificial", insta a representante da Comissão Europeia em Portugal.
Está "à distância de um clique, podem inserir os seus contributos e as suas opiniões em português, porque está acessível a todas as línguas oficiais da União Europeia e é importante ouvir a voz e a perspetiva das pessoas", insiste a responsável.
Sofia Moreira de Sousa salienta ainda que a implementação da legislação é importante, tal como haver "medidas de coação para quem não implemente ou implemente de forma dilatória esta regulamentação".
Em síntese, "é preciso continuar a trabalhar na literacia, na consciencialização dos pequeninos aos menos jovens, a todos, e aqui, uma vez mais, o papel essencial do jornalismo, que não pode nem deve ser menosprezado".
O combate à desinformação "é claramente uma maratona, mas acredito na capacidade de todas as instituições e da arquitetura institucional que temos e da vontade das pessoas para continuar esta maratona, não desistir até chegar à meta", conclui.
"Há muito trabalho a fazer"
A representante da Comissão Europeia em Portugal afirma que "há muito trabalho a fazer" no combate à desinformação e que todos têm uma responsabilidade individual" na forma como assimilam e digerem a informação.
Questionada se as medidas que estão em prática para combater a desinformação são suficientes, Sofia Moreira de Sousa salienta que nunca são e que "há muito trabalho a fazer".
Até porque a informação e a desinformação viajam "à velocidade de um clique" e "por muitas medidas que façamos, nada pode chegar ao nível necessário que é que cada um desenvolva o seu pensamento crítico", refere.
Portanto, "há uma responsabilidade individual na absorção e na digestão de informação, mas há também uma responsabilidade das autoridades e da própria União Europeia que não tem poupado esforços na luta contra a desinformação e tem-no feito a vários níveis", salienta a representante da Comissão Europeia em Portugal.
A literacia digital, mediática, "é essencial precisamente para preparar os recetores, os consumidores para terem esta capacidade de análise crítica da informação a que estão expostos", elenca, apontando que também é preciso apoiar o jornalismo, o qual "é essencial a uma democracia" e "para que as pessoas possam fazer verdadeiras escolhas livres".
Para isso, é preciso "ter informação fidedigna", sublinha Sofia Moreira de Sousa.
"Ora, nós sabemos que, infelizmente, os jornalistas estão a enfrentar muitos desafios, não só por cortes de financiamento, como até muitas vezes autocensura, como falta de transparência em quem detém os meios de comunicação, enfim, uma série de questões que não são novas, de desafios que não são novos, mas é importante desenvolver medidas e legislação para proteger jornalistas e o jornalismo independente, imparcial e fidedigno", defende.
Apoiar 'fact-checkers'
Depois, é preciso continuar a "apoiar os 'fact-checkers', ou seja, aqueles que vão verificar a idoneidade da informação", aponta a responsável.
"Trabalhamos com várias entidades e a própria Comissão Europeia tem vindo a estabelecer parcerias, não só com as plataformas digitais, mas com uma série também mesmo de plataformas da comunicação social, para desenvolver este trabalho de verificação dos factos", recorda.
E insiste na responsabilidade individual que cada um deve ter e pensar bem antes de difundir mensagens quando não se tem a "capacidade ou o tempo necessário para verificar a sua idoneidade".
Sofia Moreira de Sousa foi uma das participantes na conferência "Os cidadãos podem derrotar a desinformação", organizada pelo Conselho Económico e Social (CES) e o Comité Económico e Social Europeu (CESE), que decorreu em Lisboa na quinta-feira.
Alexandra Luís