“Temos de reconstruir a confiança nos media” – Gerard Ryle
Lisboa, 03 out 2024 (Lusa) - O diretor executivo do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla inglesa), Gerard Ryle, defendeu hoje, em declarações à Lusa, que é preciso "reconstruir a confiança nos media" e dar mais contexto ao que é publicado.
Gerard Ryle falava à Lusa, em Lisboa, no final da sua participação num evento no auditório da embaixada da Irlanda, em Lisboa, no âmbito de uma parceria entre Ireland Portugal Business Network e The Portugal News, onde falou sobre o jornalismo de investigação.
"Acho que é mais importante do que nunca que verifiquemos os nossos factos", afirmou o jornalista, quando questionado como vê o futuro do jornalismo de investigação num mundo onde a tecnologia, nomeadamente a inteligência artificial (IA) pode gerar conteúdos manipulados ou falsos.
"Acho que o jornalismo, assim como o jornalismo de investigação, mudou muito desde que comecei", prosseguiu, recordando que quando começou na profissão obter informações "era muito difícil".
Por exemplo, para encontrar informações básicas de uma empresa, tinha-se de ir a um escritório, preencher um formulário, esperar 24 horas para, pelo menos, ter alguma da informação. Depois, no dia seguinte, olhar para informação, em caso de dúvidas fazer mais questões, para o qual tinha-se de preencher mais formulários, relatou.
"Era muito difícil conseguir até mesmo uma pequena quantidade" de informação", sublinhou o diretor do ICIJ em Washington, DC, que foi galardoado com o Prémio Pulitzer e o Emmy.
Atualmente, "estamos sobrecarregados de informações e há muita informação na 'dark web'. Há muita informação de 'whistleblowers' [denunciantes], provavelmente há informação disponível que os governos têm de disponibilizar. Portanto, o nosso trabalho mudou drasticamente", enfatizou.
"É uma mudança desde tentar obter informação para agora tentar dar sentido a grandes quantidades de informação", por isso "acho que temos de usar a tecnologia e fazer melhor uso dela para fazer isso", mas sem nunca "esquecer as formas 'old fashioned' [antigas] de garantir que os factos estão corretos", defendeu.
"Precisamos de não perder a velha abordagem" porque "algumas coisas mudaram, mas outras não", acrescentou Gerard Ryle, que liderou os grupos de jornalistas envolvidos nas investigações 'Offshore Leaks', 'Panama Papers', 'Paradise Papers', 'Implant Files', 'FinCEN Files' e 'Pandora Papers', seis grandes colaborações transfronteiriças da história do jornalismo.
Relativamente à desinformação, refere que não se trata apenas de "verificar novamente os factos e garantir" que se está a fazer o trabalho de jornalista, é preciso também seguir "os princípios" do jornalismo, que é não acreditar em nada até que tenha um facto verificado.
"Precisamos de reconstruir a confiança nos media e para fazê-lo temos de assegurar que o que está a ser feito não está apenas bem para publicar, precisa de contextualizar o motivo pelo qual está a publicar" aquela informação.
Porque, por exemplo, "não é correto dizer que uma pessoa está a fazer algo errado sem explicar por que está a fazer" isso, argumentou.
"O contexto é muito importante", insistiu.
Questionado sobre que conselho daria aos jovens jornalistas, Gerard Ryle defendeu que quando alguém começa no jornalismo "é muito importante cometer erros para aprender com eles".
Por isso, "não tente ir direto ao topo, comece aos poucos" e é nesse processo que vai aprender "como fazer coisas mais sofisticadas", concluiu.
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