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UE deve criar um novo sistema mediático para combater desinformação — Investigadora

Bruxelas, 13 abr 2021 (Lusa) -- A investigadora Judit Bayer defendeu hoje que a União Europeia (UE) deve criar um novo sistema mediático para contrariar a desinformação, sob pena de cada Estado-membro desenvolver "soluções muito diferentes" que podem desintegrar a democracia europeia.

"Temos de desenvolver um novo sistema mediático e acho que a UE deve desempenhar um papel importante porque, se a UE não intervém, se deixar isto passar, os Estados-membros irão desenvolver soluções muito diferentes, o que terá consequências culturais e políticas nas sociedades dos Estados-membros, e impedirá [o desenvolvimento de] uma democracia europeia integrada", disse a investigadora.

A professora da Budapest Business University apresentava à Comissão Especial sobre a Ingerência Estrangeira em todos os Processos Democráticos na UE do Parlamento Europeu (PE) um relatório intitulado "Desinformação e propaganda: o impacto no funcionamento do Estado de direito e nos processos democráticos da UE e dos seus Estados-membros".

No estudo, feito entre 2019 e janeiro de 2021, a investigadora analisou o impacto da desinformação nas eleições para o Parlamento Europeu em maio de 2019 e nos 22 sufrágios que ocorreram nos Estados-membros durante esse período temporal, assim como o que qualificou de 'infodemia' decorrente da pandemia de covid-19.

Defendendo que os sufrágios em questão foram "pouco afetados" por campanhas de desinformação, Judith Bayer adiantou que a "primeira descoberta importante" da investigação foi que as 'fake news' estão cada vez mais "incorporadas" nas sociedades europeias, emanando com frequência de "grupos radicais", e tendo-se tornado difícil "ligá-las a atores externos".

Através da criação de "páginas falsas" que se fazem passar por redações, órgãos de comunicação, organizações não governamentais ou centros de investigação, os atores por detrás da desinformação criam "nódulos centrais", que são depois amplificados "por atores satélite" ou por "utilizadores individuais, como jovens estudantes" que são remunerados para o fazer.

"Estes atores chegam mesmo a cooperar com jornalistas ingénuos ou órgãos de comunicação, tornando a tendência mais prevalente, sobretudo quando é disseminada por uma alta autoridade política, tornando o seu impacto muito mais elevado do que em casos ordinários", sublinhou a investigadora.

Neste contexto de disseminação de desinformação no seio da população europeia, Judit Bayer apontou também o facto de que a diferença entre as pessoas que são "resilientes" a campanhas de desinformação e as que são suscetíveis de acreditar nas mesmas está a "aprofundar-se".

Neste âmbito, a investigadora referiu que as campanhas de verificação de factos têm "problemas inerentes de eficácia" porque não conseguem "chegar" nem "convencer aqueles que acreditam na desinformação", dando o exemplo de alguns seguidores de Donald Trump, que, confrontados com as "falsidades nos seus discursos", não alteravam "a sua opinião" relativamente ao ex-Presidente dos Estados Unidos.

"Paradoxalmente, quanto melhor estabelecida, e melhor financiada for uma organização de verificação de factos, mais suspeita se torna aos olhos das pessoas que desconfiam do 'sistema' e dos órgãos de comunicação no geral", apontou.

Judit Bayer abordou assim a postura da Comissão Europeia, que deixou os Estados-membros e as plataformas digitais autorregularem-se no que se refere ao combate à desinformação, considerando que essa abordagem teve um efeito positivo, no sentido em que permitiu "criar um conjunto de respostas muito ricas e muito variadas".

"Mas, do lado negativo, as respostas não tiveram consistência, tanto no que se refere às plataformas -- cada plataforma tem uma resposta e uma atitude diferente -- como nos Estados-membros, cujos resultados diferem muito de país para país", sublinhou.

A investigadora afirmou assim que, para "promover" e "desenvolver" a "integração europeia" e "salvaguardar a democracia europeia", é preciso "encontrar uma solução europeia relativamente a um novo sistema mediático".

"Um dos instrumentos [desse novo sistema mediático] seria ser mais firmes e mais forte com as plataformas. (...) Acho que é do interesse de todos que todas as regras deste novo sistema mediático sejam mais claras para as plataformas, para os órgãos de comunicação social e também para os utilizadores", apontou.

 

Tiago Almeida