Verificação de factos continua a crescer mas pode não ser suficiente – estudo IFCN

Redação, 06 jul 2021 (Lusa) - Um estudo da International Fact-Checking Network (IFCN) revela que o número de verificadores de factos continua a crescer no mundo, mas deixa dúvidas sobre se será suficiente para combater a desinformação.
A International Fact-Checking Network (IFCN), do Poynter Institute for Media Studies, com sede nos EUA, esclarece que existiam apenas 44 iniciativas de verificação de factos em todo o mundo em 2014 e até 2019 os números subiram para 188 em 60 países e para 290 em 83 países, em 2020.
Apesar do entusiasmo na criação de novos meios de verificação, investigações recentes sugerem que não existe uma resposta clara sobre a efetiva eficácia destas ferramentas, pelo que a verificação formal dos factos geralmente centra-se no discurso público e na informação de figuras importantes ou nas reivindicações que surgem nas redes sociais.
A verificação dos factos acaba por exigir ainda mais cuidado aos jornalistas sobre o quê e como verificar.
Um estudo sobre o impacto da verificação de factos em jornais locais japoneses durante as eleições regionais de Okinawa, em 2018, analisou a resposta do Twitter aos artigos e os resultados sugeriram que os artigos de verificação de factos sobre as declarações dos candidatos e o material eleitoral não foram compreendidos pelo público como verificadores de informação, mas sim como 'armas' contra adversários nos meios de comunicação social.
Um estudo realizado nos Estados Unidos em 2019, com 30 investigações experimentais sobre a eficácia da verificação de factos na correção de desinformação política, sugeriu fortemente que a verificação de factos teve maior impacto ao desmascarar os pontos de vista dos opositores e que as correções factuais nas crenças das próprias pessoas foram muito menos eficazes.
O líder do estudo, Nathan Walter, professor assistente no Departamento de Estudos de Comunicação da Universidade Northwestern, em Chicago, afirma que "não há dúvida de que, mantendo tudo o resto igual, a exposição à verificação dos factos ajuda", uma vez que "torna as crenças das pessoas mais precisas, mas não muito".
Isto porque, afirma Walter, as pessoas querem ter consistência nas suas crenças: "O raciocínio motivado é tudo sobre pertencer, sobre afirmar que se faz parte de um grupo, afirmar que o seu grupo é bom e que o outro grupo é mau".
Outro estudo liderado por Walter manipulou a incerteza da informação, com base na hipótese de que levaria as pessoas a recorrerem mais a verificadores de factos.
"O que descobrimos foi que a incerteza não tem qualquer efeito. O que realmente influencia a intenção das pessoas de verificarem os factos é quando pensam que isso irá apoiar a sua posição. As pessoas verificam os factos principalmente para afirmarem os seus pontos de vista, em oposição a confirmar ou avaliar a veracidade de algo", afirma.
A verificação de factos não é tão fácil como dividir o mundo em verdadeiro e falso, os verificadores de factos estão limitados ao que é verificável, salienta Walter.
Quando se trata de um discurso político, as matérias verificáveis podem constituir apenas uma pequenina parte de uma apresentação muito mais longa, entrelaçada com opinião e as alegações podem ser apenas parcialmente falsas, ou parcialmente verdadeiras.
Segundo este investigador, para aumentar a confiança e melhorar a seleção do que é verificado, a prática precisa de ser mais interativa e disposta a aceitar sugestões do público que os verificadores pretendem servir, especialmente no mundo atual saturado de meios de comunicação social.
O professor acrescenta ainda que os jornalistas e organizações noticiosas têm muita experiência na verificação dos seus próprios conteúdos e "por isso, têm de fazer parte da solução (para combater a desinformação)". Walter conclui que não tem a certeza se a verificação de factos, "da forma que se está a fazer atualmente, é a solução".
Nicole Gouveia