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Agências dos EUA alertam para ciberataques de Rússia, China e Irão nas eleições

epa08757716 Voters wait in a line to vote in the US Presidential Election during the first day of early voting in Miami, Florida, USA, 19 October 2020. The US presidential elections are scheduled for 03 November 2020.  EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH

Redação, 30 jul 2022 (Lusa) – Os serviços de informações dos EUA estão preocupados com a “forte probabilidade” de interferência da Rússia, China e Irão nas próximas eleições intercalares norte-americanas e especialistas acreditam no cenário de uma ação concertada.
“A possibilidade de uma ação concertada entre estes três países [Rússia, China e Irão] não pode ser excluída. Sabemos, logo à partida, que partilham um interesse comum: derrotar o que consideram ser a estratégia norte-americana para manter a hegemonia de controlo herdada do século XX”, disse à Lusa Herbert Lin, investigador do ‘think tank’ Hoover Institution.
Este analista e autor do livro Cyberthreats and Nuclear Weapons (Ciberameaças e Armas Nucleares, numa tradução literal) lembrou que, nos últimos anos, Moscovo e Pequim têm trocado entre si informações obtidas sobre os programas militares norte-americanos, em particular sobre o programa nuclear.
Herbert Lin, aliás, considera que as recentes declarações de “amizade eterna” entre os dois regimes está assente, em parte, nestes interesses comuns de procurar fragilizar a posição dos Estado Unidos em vários pontos do globo e que o Irão, nessa perspetiva, é um aliado “que não pode ser menosprezado”.
Recentemente, altos funcionários das agências de informação Federal Bureau of Investigation (FBI) e National Security Agency (NSA) revelaram estar na posse de dados que apontam para a continuidade da ameaça de interferência externa no sistema eleitoral dos Estados Unidos.
Esses agentes sublinharam que a Rússia está interessada em aproveitar as próximas eleições intercalares para o Congresso norte-americano, no final deste ano, para promover uma campanha de desinformação, com vista a obter benefícios na invasão em curso da Ucrânia.
O diretor do FBI, Christopher Wray, explicou que a Rússia não estará sozinha neste propósito de interferência no processo eleitoral, através de meios digitais, sendo também provável que o Irão e a China tenham planos para provocar danos na democracia norte-americana.
“Os russos querem dividir-nos. Os chineses tentam gerir o nosso declínio. E os iranianos procuram que nos afastemos deles”, sintetizou o diretor da agência de informações, mostrando sérias preocupações com o nível de ameaça que paira sobre as próximas eleições intercalares.
O diretor da agência britânica de informações externas MI5, Ken McCallum, tem dito publicamente, repetidas vezes, que os seus agentes mais que duplicaram o trabalho de monitorização da atividade chinesa, nos últimos três anos.
No início de julho, os diretores do FBI e do MI5 fizeram uma muito rara aparição pública conjunta, em Londres, para denunciar o aumento da ameaça que a China constitui para a segurança mundial, referindo os riscos de ações de ciberespionagem por parte da China sobre as quais persistem dúvidas de colaboração com a Rússia.
A NSA e o FBI revelaram mesmo que possuem “provas fortes” de que os atos de interferência nas eleições norte-americanas, que remontam a 2016, aquando da vitória do ex-Presidente Donald Trump, se podem repetir em futuros atos eleitorais, desde logo nas eleições intercalares, e que a Rússia não será o único ator.
Durante uma conferência sobre cibersegurança, em Nova Iorque, na passada semana, Christopher Wray lembrou que nas eleições presidenciais de 2020, que deram a vitória a Joe Biden, houve provas de que o Irão procurou influenciar eleitores na Florida para tentar impedir a reeleição de Donald Trump.
“Sabemos que os países inimigos dos Estados Unido se preparam para continuar a interferir nas eleições. Desconfiamos que eles estejam a concertar-se entre si. Mas sabemos muito pouco, ou nada, sobre os seus reais objetivos. Será impedir a reeleição de Biden (...)? Será impedir o regresso ao poder do Partido Republicano? Não sabemos”, disse à Lusa Kai Lin Tay, do International Institute for Strategic Studies.
Numa recente entrevista ao jornal The New York Times, Christopher Wray reconheceu que a Rússia e a China têm um historial de tentar influenciar os processos eleitorais norte-americanos, mas que esse é apenas um elemento numa complexa engrenagem de ciberespionagem.
“As eleições são apenas uma peça de um mosaico muito maior para eles”, admitiu o diretor do FBI, referindo-se à estratégia russa e chinesa.
Por outro lado, os ‘media’ norte-americanos têm citado fontes das agências de informação que se mostram preocupadas com a “elevada probabilidade” de o Presidente russo, Vladimir Putim, usar a sua panóplia de estratégias de ciberataques e de desinformação nas próximas eleições intercalares dos Estados Unidos, com fins de propaganda.
De acordo com essas fontes, Putin quer aproveitar a oportunidade para espalhar informação falsa sobre a estratégia de Washington e de Bruxelas de impor sanções a Moscovo, alertando para os danos que essas medidas punitivas estão a provocar nas economias norte-americanas e europeias.
“Putin vai fazer tudo para colocar dúvidas nas cabeças dos eleitores sobre a necessidade moral e o custo económico de ajudar a Ucrânia”, comentou Stephen Hanson, vice-reitor da Universidade da Virgínia, citado pela revista Newsweek.
Alguns especialistas em segurança admitem ainda que o Presidente russo possa voltar a usar os seus mercenários piratas informáticos para causar distúrbios no processo eleitoral do final deste ano, com o propósito de abalar a confiança na integridade do processo político nos Estados Unidos, em retaliação ao apoio à Ucrânia e numa demonstração da sua força neste tabuleiro de geopolítica.

*** Ricardo Jorge Pinto, da agência Lusa ***

Lusa/Fim