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Antigo diretor do Financial Times questiona televisões por interromperem Trump

Londres, 09 nov 2020 (Lusa) - O antigo diretor do Financial Times Lionel Barber questionou hoje a decisão das principais estações de televisão dos Estados Unidos interromperem um discurso do Presidente norte-americano no qual Donald Trump alegou fraude eleitoral.

"Não o teria feito. As estações estavam a compensar excessivamente a forma como cobriram campanha das eleições de 2016 porque foram com a corrente, porque Trump dava-se a isso, ela era uma grande figura e eles retrataram-no assim. Também era bom para as audiências", disse, numa conversa com membros da Associação de Imprensa Estrangeira no Reino Unido.

Algumas das principais estações de televisão dos Estados Unidos, como ABC, CBS e NBC, cortaram o discurso do Presidente na sexta-feira em horário nobre, enquanto a Fox News, referência informativa do Partido Republicano, desmentiu as alegações de Donald Trump.

No discurso, Trump alegou, sem apresentar provas, que os democratas estavam a usar "votos ilegais" para "roubar a eleição", a qual projeções dos 'media' norte-americanos deram o candidato democrata Joe Biden como vencedor no sábado.

Barber disse que a sua opção teria sido "destruir" muitos dos argumentos no final e exigir aos jornalistas a cobrir as eleições que dessem contexto às afirmações nas suas reportagens.

"Porque o contexto é essencial neste aspeto. Não se dá notícias cegamente sobre 'tweets'", vincou.

Sobre a influência das redes sociais na política e campanhas eleitorais, Lionel Barber disse que só agora é que se está a perceber o impacto e a forma os algoritmos tendem a polarizar a opinião pública.

"Quando mais controverso for o 'tweet', mais provável é que tenha reações e mais seguidores. Isto é perverso, não resulta num debate construtivo. Mas temos um problema se tentarmos interferir demasiado porque as pessoas vão dizer que é censura", admitiu.

Barber elogiou as redes sociais Facebook e Twitter por se terem adaptado e intervindo durante a campanha para assinalar contas ou mensagens com conteúdo duvidoso.

"Eles perceberam que ter uma praça pública ruidosa sem quaisquer regras é uma oclocracia ['mobocracy'], não é uma democracia", vincou.

Lionel Barber falava na sequência do lançamento de um livro sobre a sua experiência como diretor do Financial Times entre 2005 e 2020, período durante o qual acompanhou a crise financeira global, a ascensão da China, o 'Brexit' e a luta dos meios de comunicação social tradicional pela sobrevivência na era da desinformação.

No livro, intitulado "The Powerful and the Damned" [Os Poderosos e os Malditos], relata encontros com líderes políticos, banqueiros e empreendedores, incluindo Donald Trump ou Angela Merkel.

 

Bruno Manteigas