António José Teixeira: Jornalismo é permeável à desinformação e verificação de factos insuficiente

Lisboa, 19 set 2025 (Lusa) – O ex-diretor de informação da RTP, António José Teixeira, considera que, apesar da verificação de factos ser urgente, revela-se insuficiente, sobretudo numa altura em que o jornalismo se tornou permeável à desinformação.
António José Teixeira participou hoje no simpósio “Media e Pluralismo em Portugal – Uma crise que se agrava”, em Lisboa, onde afirmou que “a verificação dos factos é imprescindível, é urgente, mesmo que se esteja a revelar arcaica, tal a sua incapacidade e insuficiência para perceções e alienações tão díspares e poderosas”.
O ex-diretor de informação da RTP explica que “há quem se dedique a construir realidades, quando a escolha entre o falso e o verdadeiro perdeu pertinência e se habita em mundos paralelos”, dificultando o combate à desinformação.
Além disso, “o jornalismo tornou-se permeável à desinformação, perdeu sustentabilidade económica, quando precisa como nunca de mais músculo para escrutinar e explicar a complexidade do mundo. Parece destinado ao consumo de uma minoria disponível para o pagar e reconhecer a sua utilidade”, afirmou o professor.
Neste sentido, o relatório “Media Pluralism Monitor” (MPM) alerta principalmente para a existência de "riscos de desinformação durante os períodos eleitorais através de mensagens que circulam nas plataformas digitais, que escapam ao atual enquadramento regulatório dirigido aos media tradicionais, mesmo que seja aplicado por extensão aos media digitais".
"Os riscos são agravados pelas práticas comunicacionais do partido de extrema-direita Chega, que tem sido várias vezes acusado de descontextualizar grosseiramente informações ou de utilizar logótipos de marcas jornalísticas para divulgar notícias falsas", lê-se no documento.
António José Teixeira salientou ainda que defender um jornalismo independente é uma responsabilidade pública, através da importância do serviço público de media para uma democracia saudável.
O MPM realça, neste aspeto, que "a maioria das empresas de media não possui códigos de ética adaptados ao ecossistema digital que ofereçam orientações detalhadas em momentos críticos do ciclo democrático, como campanhas eleitorais, desinformação e a ascensão do populismo de extrema-direita".
Na iniciativa que apresenta os dados do “Media Pluralism Monitor”, que decorre na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a subdiretora para a investigação da faculdade, Sónia Vespeira de Almeida, realçou a importância desta monitorização para meios de comunicação social em Portugal.
Paulo Resendes