Brasil: Moro diz à Polícia que filho de Bolsonaro tem ligação a “gabinete do ódio”

Brasília, 27 nov 2020 (Lusa) - O ex-ministro da Justiça brasileiro e antigo juiz da Lava Jato, Sergio Moro, disse à Polícia Federal que Carlos Bolsonaro, filho do Presidente, Jair Bolsonaro, tem ligação ao "gabinete do ódio", noticiou hoje a rede Globo.
Em causa está um depoimento a que o jornal O Globo teve acesso, e que foi prestado por Sergio Moro à Polícia Federal (PF), no dia 12 deste mês, num inquérito que investiga a organização de atos antidemocráticos no país.
Moro, que pediu demissão do Governo em abril, após acusar Bolsonaro de tentar interferir na autonomia da PF, afirmou no depoimento que ouviu de ministros de Estado que o vereador Carlos Bolsonaro tem ligações ao denominado "gabinete do ódio", um grupo de apoiantes 'bolsonaristas' que, alegadamente, se dedica à disseminação de notícias falsas e ataques a cidadãos e autoridades.
De acordo com o ex-juiz, também ele próprio foi alvo de ataques desse grupo após ter deixado o cargo ministerial.
Moro "respondeu que os nomes de Carlos Bolsonaro e Tercio Arnaud [assessor especial da Presidência da República] eram normalmente relacionadas ao denominado 'Gabinete do Ódio'; indagado sobre como tomou conhecimento da relação de tais pessoas com o denominado 'Gabinete do Ódio', respondeu que tomou conhecimento por comentários entre ministros do Governo", disse o ex-juiz no depoimento, sem indicar o nomes dos referidos governantes.
Sobre os ataques que sofreu diretamente, Moro disse "que aquando da sua saída do Ministério da Justiça ocorreram diversos ataques contra a sua pessoa em redes sociais; que chegou ao seu conhecimento que tais ataques eram oriundos do denominado 'Gabinete do ódio'".
Após essas declarações, Sergio Moro recomendou à PF que recolha os depoimentos dos "ministros palacianos", ou seja, que frequentam o Palácio do Planalto, sede do Governo, em Brasília.
"Acredita que melhores esclarecimento possam ser prestados por ministros que atuavam dentro do Palácio do Planalto; Indagado sobre quem seriam os ministros, respondeu que seria possível obter melhores esclarecimento, por exemplo com o Secretário de Governo, o Ministro do Gabinete de Segurança Institucional, e o Secretário de Comunicação, uma vez que o depoente trabalhava fora do Palácio do Planalto", acrescenta o documento.
Num depoimento prestado anteriormente no mesmo inquérito, o vereador Carlos Bolsonaro negou qualquer ligação aos ataques contra autoridades nas redes sociais.
Hoje, após O Globo ter tornado público o depoimento, o filho de Bolsonaro foi à rede social Instagram criticar as declarações de Moro.
"Não há qualificação para mais essa tentativa boçal. Saudades de viver em um mundo onde homens eram homens!", escreveu Carlos Bolsonaro.
Em causa está um inquérito aberto em abril, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) do Brasil, para apurar a organização de manifestações contra a democracia no país, que pediram o encerramento do Supremo e do Congresso, assim como uma intervenção militar.
Nesse sentido, a polícia brasileira cumpriu vários mandados de busca e apreensão na residência de aliados do Presidente, Jair Bolsonaro, com o intuito de aceder a eventuais provas sobre a organização de protestos antidemocráticos, assim como quem os financia.
Entre os alvos das ações policiais estavam deputados federais, senadores e diversos outros apoiantes do líder do executivo, como empresários, 'bloggers' e 'youtubers'.
As investigações da PGR consideram que aliados políticos de Jair Bolsonaro usaram dinheiro público para divulgar atos antidemocráticos.
No mesmo caso, também o vereador Carlos Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, filhos do Presidente do país, foram intimados a depor, na condição de testemunhas.
Marta Moreira