China Daily recorda índice chinês como exemplo de ‘fake news’
Macau, 30 jan 2019 (Lusa) - O consultor de 'media' para o jornal China Daily Reino Unido Harvey Morris recorre, num artigo publicado em 24 de janeiro, ao "indicador Yiwu" para abordar o fenómeno global e em crescimento das chamadas 'fake news'.
Um 'meme' da internet, iniciado na China há alguns anos, aplaudia o poder de previsão, em termos de grandes eventos mundiais, dos dados de vendas ao estrangeiro da cidade de Yiwu, na província de Zhejiang, na costa leste, principal centro mundial de produção e comércio de artigos de baixo custo [small commodities].
Para Morris, o fenómeno do "indicador Yiwu" surgiu em 2016, quando publicações online garantiram que o elevado volume de encomendas àquela cidade chinesa de bandeiras, chapéus e t-shirts de Donald Trump, deixava antever a vitória do empresário nas eleições presidenciais norte-americanas.
No final do ano passado, o "Yiwu" voltou a ser debatido na internet, quando rumores em vários 'chats' virtuais sugeriam que os abastecedores daquela localidade estavam a ficar sem coletes amarelos, apesar do reforço extraordinário da produção, devido a um aumento da procura da Europa.
De acordo com as "previsões", os protestos dos "coletes amarelos" de França, contra o aumento dos impostos sobre os combustíveis e a subida do custo de vida, estavam prestes a alastrar a países como a Suécia ou a Suíça.
Mas, afinal existiam muitos coletes à venda, tal como constataram os 'fact-checkers' de órgãos de comunicação social chineses, como o jornal Global Times, enviados a Yiwu.
Alguns fornecedores afirmaram não ter recebido encomendas da Europa e um deles garantiu mesmo que a procura tinha descido em relação a 2017, quando a Rússia adquiriu grandes quantidades a antecipar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018.
O autor lembra que o indicador oficial Yiwu, criado em 2006, cumpre uma tarefa bem mais humilde e longe de qualquer decisão sobre grandes eventos mundiais: a de refletir as condições comerciais para os bens de consumo chineses. Ao mesmo tempo, lamenta a aparente disponibilidade de uma vasta maioria da comunidade online para acreditar em qualquer teoria publicada na internet, e não em notícias baseadas em factos verificados. Além de uma característica intrinsecamente humana, o autor vê as chamadas 'fake news' como um fenómeno global e em crescimento.
Isso levou, no ano passado, a comissão para os assuntos do ciberespaço do Governo chinês e a agência de notícias oficial chinesa Xinhua a criarem a plataforma Piyao para incorporar o trabalho de dezenas de sites de verificação de factos.
Harvey Morris defende que, em 2019, vale a pena dar mais um passo e encorajar as escolas a dar formação em ceticismo, em que a primeira lição podia ser: "não acreditem automaticamente em tudo o que leem no Twitter ou no Wechat [conhecido como o Twitter chinês]".
Como bem sabem os jornalistas da velha guarda, se alguma coisa soa a mentira, provavelmente é mentira. A regra mantém-se cada vez mais atual: verificar sempre e antes de carregar no botão "enviar".
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