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Tribolet aponta dados e modelos falsos como origens

Lisboa, 25 fev 2021 (Lusa) - O investigador emérito do INESC José Tribolet considera que as 'fake news' têm duas origens, dados falsos e modelos falsos, e aponta que a propensão para acreditar em desinformação deve-se "à falta de capacidade de pensar".

"Estamos a viver um momento muito interessante onde temos o mundo cheio de 'fake news' [desinformação]", afirma o também professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico (IST), em entrevista à Lusa.

De acordo com investigador emérito do INESC, as 'fake news' veem de duas origens: dados falsos e modelos falsos.

Trata-se de dados "que não são verdadeiros, foram fabricados" e isso significa que "temos de ter a capacidade de validar dados", que "hoje é muito limitada", explica José Tribolet.

"Não temos fontes múltiplas de acessos aos dados. Normalmente, a fonte de dados é só uma e, portanto, não temos a capacidade, como no jornalismo, em que temos de verificar uma história com várias fontes", aponta.

Ou seja, "um dado que é recolhido não tem várias fontes para validar" e por isso está "muito sujeito a dados falsos".

Se uma determinada fonte de dados "estiver a ser olhada por vários sensores, e cada um deles em redes mais ou menos independentes, eu tenho a possibilidade de ver que há aqui um sensor que me está a dar informação falsa", salienta Tribolet.

No caso dos modelos falsos, a situação é a seguinte: "Eu agarro em dados verdadeiros e meto em modelos do mundo que são falsos, que são mentira, mas constroem histórias muito plausíveis como o QAnon [teoria da conspiração de extrema direita, cujos membros estiveram envolvidos na invasão ao Capitólio nos EUA]" e essa história toda agora nos Estados Unidos", refere.

"Aquilo que apareceu com alguma surpresa para nós foi este casamento entre as redes sociais e Internet e a forma como movimentos, que eu diria não só populistas, é completamente 'chanfrados da cabeça'", considera o investigador emérito do INESC.

José Tribolet salienta que "mais que populistas", são "movimentos que estão baseados em conceções da realidade que são absolutamente fantásticas, que não têm nada a ver com a realidade".

E aponta que o QAnon não é apenas uma realidade nos Estados Unidos, uma vez que se propaga "a outros sítios", frisando que "a quantidade de pessoas que têm propensão para acreditar em coisas absolutamente estrambólicas, em conspirações inacreditáveis, é enorme".

Isso deve-se "em grande parte" à falta de conhecimento e de de capacidade de pensar, considera.

"Há muitos dados, há muita coisa a fluir, mas não há educação, não há conhecimento e sobretudo, que é um dos mais graves problemas do sistema educativo atual em que nós vivemos, pelo menos no Ocidente", não ensina a pensar, frisa.

"Uma missão fundamental da educação é proporcionar aprendizagens que, além de permitirem (...) a absorção de conhecimentos e a capacidade de saber fazer, permitem uma coisa mais importante, que é a capacidade de saber pensar", sublinha José Tribolet.

Capacidade que se traduz em "saber olhar para uma realidade e problematizar, compreendê-la é perceber quais são os desafios que a realidade apresenta e perante os quais nós, indivíduos, temos alguma capacidade de agir e de transformar a realidade".

"A capacidade de pensar é a coisa mais importante e a maior parte do nosso ensino - não estou só a falar de Portugal - não está feito para ensinar, proporcionar esta aprendizagem de pensar e isto ainda é mais grave quando as pessoas e a malta mais nova deixou de ler e de escrever", lamenta.

 

Alexandra Luís