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Combate à desinformação em vésperas de eleições gerais na Nigéria

epa07364612 All Progressives Congress (APC) presidential Candidate, President Muhammadu Buhari  (3-L) waves the APC flag during a campaign rally in Yenagoa, Bayelsa state, Nigeria 12 February 2019.  Presidential elections in Nigeria take place 16 February 2019.  EPA/TIFE OWOLABI

Abuja, 13 fev 2019 (Lusa) - Com eleições gerais marcadas para sábado, acreditar em "fake news" tornou-se num fenómeno generalizado na Nigéria, onde o Presidente se viu forçado a desmentir que tinha morrido e sido substituído por um duplo.

"Sou eu, posso assegurar-vos", disse o Presidente Muhammadu Buhari, numa declaração pública, no final do ano passado, para desmentir uma história vista por mais de 500 mil pessoas nas redes sociais Facebook, Twitter e YouTube.

Mas, a credibilidade em informações que posteriormente se revelam falsas, tem tido consequências mais gravosas no país, incluindo a instigação da violência e mortes.

A campanha eleitoral está a ser marcada pelo descontentamento com o desemprego, a pobreza e a insegurança em algumas partes do país e as autoridades alertam para que a disseminação de fotografias falsas ou antigas a retratar violência nas comunas estão a causar mortes por retaliação.

Várias pessoas foram já mortas como represália por causa da divulgação de um conjunto de imagens falsas que mostram vários mortos num conflito entre pastores e agricultores, no centro da Nigéria, no ano passado, disse Tolu Ogunlesi, assessor do Presidente nigeriano para a comunicação social.

"'Fake news' matam pessoas. Já vimos imensas coisas como estas", disse, acrescentando que alguns dos "confrontos mais mortais na Nigéria foram provocados por informações falsas".

O responsável sugeriu ainda que apontar e desmascarar os responsáveis pela disseminação de informações falsas poderia "conter o problema".

Dezasseis meios de comunicação social juntarem-se num projeto de verificação de factos, o "CrossCheck Nigéria" para confirmar informações eleitorais suspeitas que circulam "online".

Algumas das histórias recentemente desacreditadas pelo "CrossCheck Nigéria" incluíam alegações de que a primeira-dama do país queria que os eleitores votassem contra o marido, bem como a sugestão de que o Presidente norte-americano, Donald Trump, apoiava o candidato da oposição Atiku Abubakar.

O termo "fake news" passou a ser usado regularmente após as eleições norte-americanas de 2016, alegadamente influenciadas por uma campanha de desinformação por parte da Rússia.

Em África, a disseminação de informações falsas é há muito tempo uma questão controversa, alimentada pela iliteracia mediática das populações e pelo sigilo que caracteriza o estilo de muitas governações no continente.

Mas o combate ao fenómeno ganha nova urgência quando 1,2 mil milhões de pessoas têm telemóvel e 24% estavam "online" no ano passado, o maior crescimento mundial, de acordo com a Agência Internacional de Telecomunicações da ONU.

Alguns governos africanos querem criminalizar a publicação de notícias falsas, um passo demasiado longo para os jornalistas nestes países, onde a comunicação social é muitas vezes censurada e os jornalistas podem ser presos por escreverem histórias críticas do poder.

O Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, aprovou, no ano passado, a aplicação de multas e penas de prisão para condenados por divulgarem "fake news", depois de as eleições presidenciais de 2017 terem ficado marcadas por uma campanha de desinformação "online" que fez aumentar a tensão política num país conhecido pela violência pós-eleitoral.

Por outro lado, alguns governos de África são acusados de eles próprios promoverem a desinformação e de tentarem desacreditar relatórios de organizações internacionais.

As autoridades da Nigéria contestam frequentemente a veracidade de relatórios sobre alegados abusos policiais e militares sobre os eleitores durante as campanhas eleitorais, bem como as ações das organizações de direitos humanos.

"A designação 'fake news' tornou-se num cliché, uma senha para demonizar os jornalistas, os média e as organizações não governamentais", defendeu o porta-voz da Amnistia Internacional da Nigéria, Isa Sanusi.

Adiantou, por outro lado, que as informações falsas se espalham rapidamente na Nigéria porque as autoridades não são transparentes no que toca à informação governamental.

"A única coisa que está a alimentar este fenómeno é o facto de a informação não estar disponível", sublinhou, considerando que a "solução para impedir notícias falsas na Nigéria é a transparência, especialmente por parte das autoridades".

O escritor nigeriano e Prémio Nobel da Literatura, Wole Soyinka, disse, numa recente conferência sobre o tema, que "se diverte a ler os frequentes obituários sobre a sua morte".

Contudo, sublinhando a gravidade do problema, Soyinka alertou que "se não houver cuidado, a III Guerra Mundial começará com "fake news", provavelmente geradas por um nigeriano".

CFF // VM

Lusa/Fim