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Fraca compreensão das línguas maternas moçambicanas pode dar origem a desinformação

António Ndapassoa, docente da
Universidade Politécnica participando no debate

Maputo, 10 jul 2019 (Lusa) - A fraca compreensão das línguas maternas moçambicanas ou a má tradução para essas línguas podem dar a origem a desinformação, alertou hoje António Ndapassoa, diretor do Departamento de Línguas da Rádio Moçambique.

"Podem ocorrer 'fake news' nas publicações em línguas moçambicanas", referiu durante a conferência sobre o tema, promovida hoje pela Lusa em Maputo e intitulada "Combate às 'Fake News' - Uma Questão Democrática".

Moçambique tem uma população de 28 milhões de habitantes, estima-se que 39% seja analfabeta e a larga maioria -- cerca de 90% - tem uma língua moçambicana como língua materna, em vez da língua oficial, o português, o que obriga a refletir sobre o efeito que esta diversidade pode ter no surgimento de desinformação.

O debate sobre o tema é recente e a própria denominação equivalente a 'fake news' varia de língua para língua, entre expressões com uma ou quatro palavras.

"A Rádio Moçambique tem noticiários diários em 19 línguas com informação maioritariamente traduzida do português", referiu Ndapassoa, que é também docente na Universidade Politécnica.

Na televisão há também "jornais locais em emissão nacional diária", em que "a notícia é quase sempre escrita em português e depois traduzida", afirmou.

Nas redes sociais, "há uso das línguas maternas em interações informais e notícias que são veiculadas de forma irregular, quase sempre traduzidas do português", acrescentou.

Neste sentido, "precisão e rigor" são necessário ao lidar com as línguas locais de cada região nos órgãos de comunicação social, realçou.

Por outro lado, principalmente nas zonas rurais, há informação propagada "sem recurso aos media, mas que cumpre o roteiro das 'fake news'", acrescentou, apontando como exemplo o mito do 'chupa-sangue' -- relatos de pessoas que utilizam instrumentos especiais para roubar o sangue a outras.

Nalguns pontos, este conto recorrente já tem motivado confrontos da população, que acredita neles, com equipas de médicos ou de pesquisas agrícolas, e que utilizam equipamentos desconhecidos para a maioria dos residentes e que motivam boatos.

Em outubro de 2017, a polícia moçambicana deteve 20 pessoas na província da Zambézia, suspeitas de vandalismo motivado por relatos da presença de supostos "chupa-sangue" na região.

Na altura, duas pessoas morreram durante os tumultos e vários estabelecimentos foram destruídos.

A conferência "Combate às 'Fake News' - Uma Questão Democrática" é promovida pela Lusa em parceria com o semanário Savana, que celebra 25 anos, e a Universidade Politécnica.

O evento sucede a outro sobre o mesmo tema promovido pela Lusa em fevereiro, em Lisboa.

O debate em Moçambique faz parte do programa de visita ao país do presidente do Conselho de Administração da Lusa, Nicolau Santos, e da diretora de informação, Luísa Meireles, para apresentação de novos serviços da agência de notícias de Portugal.

 

Luís Fonseca (texto) e António Silva (foto)