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Gary Rivlin: IA será como jogo do gato e do rato na criação e deteção de ‘fake news’

epa11077119 A person walks in front of a screen displaying artificial intelligence (AI) generated artwork by Turkish-American media artist Refik Anadol inside the Congress Center on the eve of the 54th annual meeting of the World Economic Forum (WEF) in Davos, Switzerland, 14 January 2024. The meeting brings together entrepreneurs, scientists, corporate and political leaders in Davos under the topic 'Rebuilding Trust' from 15 to 19 January.  EPA/LAURENT GILLIERON

Lisboa, 27 set 2025 (Lusa) - O escritor e ex-correspondente do NY Times em Silicon Valley Gary Rivlin afirma que a Inteligência Artificial (IA) como criadora e identificadora de 'fake news' será como o jogo do gato e do rato.

"Penso que será um jogo do gato e do rato em que temos agora uma ferramenta poderosa que pode identificar este tipo de 'deep fakes' e ajudar-nos a compreender que é uma 'deep fake', mas depois as pessoas, do outro lado, vão melhorar em termos de tecnologia", afirma Gary Rivlin, quando instado a comentar o papel da inteligência artificial como criadora e detetora de desinformação.

Rivlin, que é membro da equipa vencedora do prémio Pulitzer 2017 responsável pelo Panama Papers, esteve em Lisboa a convite do clube RedBridge Lisbon, que liga as comunidades empreendedoras e de investidores de Silicon Valley e Lisboa.

"Será uma corrida em que ora a vantagem está de um lado, ora a vantagem está do outro", diz, quando questionado qual dos lados vai ganhar, referindo que o mesmo se coloca nas questões de segurança.

A IA "é uma ferramenta fantástica para a segurança", que permite detetar algo suspeito se um padrão for quebrado e lançar um alerta. "Mas, por outro lado, a IA pode ser utilizada por pessoas mal intencionadas para manipular e enganar outras pessoas" e, portanto, "mais uma vez, acho que é este jogo do gato e do rato".

Sobre o papel da IA no jornalismo, Gary Rivlin, que é autor de mais de uma dezena de livros, entre os quais o recente 'AI Valley', refere que a tecnologia ainda não se desloca e entrevista pessoas.

"Não vai fazer um conjunto de entrevistas, pelo menos na minha opinião a curto e médio prazo", afirma.

O que a IA pode fazer no jornalismo "é uma notícia básica", "formula bem as coisas", mas "não é criativa" no sentido em que os escritores são criativos, nem vai a uma reunião do conselho municipal ou da direção da escola.

No entanto, se a IA tiver as entrevistas, pode criar uma história "básica, mas não uma história particularmente boa ou criativa", considera.

Gary Rivlin usa IA "todo o dia, todos os dias", não só para investigação, mas também para obter sugestões e ajudar na transcrição de entrevistas, referindo ser uma "ferramenta muito útil".

Instado a partilhar um conselho, o jornalista que desde final de 2022 tem estado focado no tema da inteligência artificial aconselha a aprender a usar a tecnologia. "A IA é uma ameaça para muitos empregos 'white-collar' [de escritório, administrativos], a IA é uma ameaça para muitos empregos 'blue-collar [operários]", por isso "acho que o segredo é usá-la", aconselha.

A curto e médio prazo, "acredito que serão as pessoas que utilizarão a IA que se sentirão confortáveis com ela, ultrapassando as que não a utilizam", diz, referindo que daqui a uma década saber usar a tecnologia será essencial.

"Seja proficiente" a usar a IA, caso contrário irá aumentar as probabilidades de ser substituído, aponta.

Sobre os media nos Estados Unidos, o especialista considera que a IA é uma "parte muito pequena" da atual situação.

"Há muito menos notícias locais porque são caras, há muito menos reportagens de investigação porque são caras", além de que agora "todo a gente é jornalista", refere.

Por exemplo, plataformas como o X "têm mais influência, na minha opinião, do que os principais jornais e redes de televisão dos EUA", prossegue.

"Haverá sempre necessidade de jornalistas, mas é uma profissão em declínio, pelo menos nos EUA", lamenta, admitindo tempos difíceis para o setor.

Mais uma vez, trata-se de um "problema muito maior do que apenas a IA", esta "é simplesmente adicionada à lista de problemas", diz Gary Rivlin, dando o exemplo do que algumas publicações estão a fazer nos Estados Unidos.

"Diferentes publicações nos EUA estão a usar IA" e meteram-se 'em trabalhos' porque a inteligência artificial "inventa histórias e publicam-nas porque querem cortar custos e tudo mais" e agora têm de pedir desculpa por isso, relata.

Rivlin diz que os jornalistas ainda são necessários, mas "talvez" se precise menos deles.

 

Alexandra Luís