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MediaLab: Sondagem brasileira ‘disparou’ nas redes com ajuda do Chega

epa07604032 Electoral helpers empty a ballot box to count votes of the the European elections in Przemysl, Poland, 26 May 2019. The European Parliament election is being held by member countries of the European Union from 23 to 26 May 2019.  EPA/Darek Delmanowicz POLAND OUT

Lisboa, 03 mar 2024 (Lusa) -- As contas nas redes sociais do Chega foram "as grandes impulsionadoras" na difusão de uma sondagem que não podia ser publicada em Portugal e que colocava o partido num suposto empate técnico com AD e PS.

Uma pesquisa do MediaLab do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE-IUL), relativa à semana passada, concluiu que o Chega e o seu líder foram quem mais ajudou a multiplicar e difundir uma sondagem do Instituto Paraná Pesquisas, do Brasil, que não está credenciada em Portugal, e que levou a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) a abrir um processo de averiguações.

+++ Chega e apoiantes partilham sondagem de instituto não credenciado +++

No Facebook, mais de metade das publicações a partilhar uma captura de ecrã com o resultado desta sondagem são de "páginas de militantes ou dirigentes do partido Chega", segundo o MediaLab, que está a conduzir um projeto de parceria com a agência Lusa sobre as eleições nas redes sociais e os processos de desinformação na fase pré-eleitoral para as legislativas de 10 de março.

Foram os 'posts' de André Ventura e do Chega que angariaram 88% das interações (soma de todas as reações, comentários e partilhas de uma publicação).

E, no X (ex-Twitter), a "partilha da captura de ecrã do artigo do Folha Nacional", jornal do Chega, com a sondagem, foi feita "sobretudo por membros do partido que angariaram metade das interações (soma de todos os "gostos", comentários e partilhas), destacando-se André Ventura e o dirigente Pedro dos Santos Frazão.

+++ ERC abre processo de averiguações +++

A ERC abriu "um processo de averiguações" à sondagem divulgada pelo Chega no jornal Folha Nacional, feita por uma empresa brasileira não credenciada pelo regulador português.

André Ventura afirmou que o Chega nada tem a ver com a empresa e adiantou que apenas partilhou uma notícia que estava "espalhada por toda a imprensa brasileira".

+++ Sondagem era falsa e Polígrafo confirma desinformação +++

Na análise do MediaLab surgem, igualmente, publicações nas redes sociais relativas a uma alegada sondagem, em 21 de fevereiro. Era falsa, atribuída ao CESOP - Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica, e colocava o Chega em empate técnico com a AD e o PSD.

Tudo era falso e o 'site' Polígrafo confirmou o seu caráter desinformativo.

Neste caso, nenhum dirigente do Chega partilhou qualquer das publicações, mas a responsabilidade pela sua difusão, segundo os peritos do MediaLab, foi de grupos de simpatizantes do Chega, responsáveis por 78% das interações.

+++ Passos Coelho e imigração dominaram redes +++

A primeira semana de campanha oficial para as eleições de dia 10 foi marcada pelo discurso do ex-líder do PSD Pedro Passos Coelho, objeto da pesquisa do MediaLab.

O antigo primeiro-ministro foi mais referido do que qualquer outro político, sobretudo no Facebook, Instagram e X (ex-Twitter) e foi "sobretudo a esquerda que mais reagiu à sua incursão na campanha".

O PSD e AD foram "os mais visados" nas redes sociais, sendo a imigração "o tema a que foi mais associado" a Passos Coelho.

Num comício em Faro, em 26 de fevereiro, Passos Coelho acusou o PS de ter aumentado a insegurança no país, que associou à imigração, com uma frase muito criticada à direita: "Nós precisamos de ter um país aberto à imigração, mas cuidado que precisamos também de ter um país seguro".

Os especialistas do MediaLab fizeram uma busca por "Passos Coelho" no Facebook, X, Instagram e TikTok, entre o momento do discurso em Faro, cerca das 19:00 do dia 26, até ao final do dia 28 de fevereiro.

No Facebook, a publicação sobre Passos Coelho que "mais captou a atenção" foi um 'post' da SIC-Notícias com "uma frase do jornalista Ricardo Costa desmentindo a associação entre imigração e insegurança", segundo o relatório dos especialistas do ISCTE.

No X, foi uma publicação de Pedro Marques Lopes, com críticas a Passos Coelho, a que teve mais interações (2.567), mas a que teve mais visualizações (mais de 360 mil) foi a publicação do Polígrafo que confirmou ser falsa a associação entre imigração e insegurança.

Já no TikTok, o tema Passos Coelho "parece ter gerado menos interesse do que nas outras redes sociais, com menos publicações e menos interações", mas a CNN Portugal, Bloco de Esquerda e SIC Notícias foram as contas que captaram mais atenção.

+++ Passos também dominou opinião +++

Segundo os especialistas, e tal como aconteceu nos meios de comunicação social, nas redes sociais e nas pesquisas Google, também na opinião dos comentadores publicada nos jornais entre 22 e 29 de fevereiro a intervenção de Passos Coelho na campanha "assumiu um papel central", com "o consequente impacto ao nível da disseminação no Facebook".

A crónica de João Miguel Tavares, com o título "A culpa é do Passos?", foi a que teve mais projeção no Facebook, seguida das opiniões de Carmo Afonso ("A xenofobia estratégica de Passos Coelho") e de Helena Pereira ("Passos Coelho e os diabos"), todas no Público, a que se junta outro texto de opinião, de Gonçalo Ribeiro Telles ("A quem serve Passos Coelho").

+++ Metodologia utilizada pelo MediaLab +++

O 'ranking' de publicações nas quatro redes sociais (Facebook, X, Instagram e TikTok) é obtido somando o número de interações de todos os 'posts', tomando em consideração as métricas de interações disponíveis em cada plataforma.

Os dados foram recolhidos usando Crowdtangle (para Facebook e Instagram) e Sentione (para X e TikTok). Estas ferramentas recolhem dados através das API (interface de comunicação que permite o acesso a dados) oficiais e autorizadas pelas plataformas para recolha de conteúdos públicos.

Um dos objetivos do projeto do MediaLab e da agência Lusa é o de identificar os conteúdos desinformativos atribuídos aos partidos ou candidatos pelos 'fact-checkers' nacionais credenciados pela International Fact-Checking Network (IFCN), Polígrafo, Observador Fact Check e Público - Prova dos Factos, e avaliar o impacto nas redes sociais, medido em interações e visualizações.

NS // SSS

Lusa/fim