Ministra realça que aumento de mulheres nas FA não é suficiente para “representatividade efetiva”
Lisboa, 23 jun 2022 (Lusa) -- A ministra da Defesa Nacional realçou hoje que o aumento de mulheres nas Forças Armadas não é suficiente para atingir uma representatividade efetiva, salientando a importância da integração da perspetiva de género nas operações militares.
"A igualdade formal é condição necessária, mas não suficiente, para uma integração e representatividade efetivas. Por essa razão, apesar do aumento da percentagem de mulheres nas fileiras nos últimos anos, não nos podemos contentar apenas com números", afirmou.
Helena Carreiras falava na sessão de encerramento do seminário organizado pelo Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), sob o tema "A Integração da Perspetiva de Género nas Forças Armadas Portuguesas e nas Operações Militares -- Uma visão do futuro", no Instituto Universitário Militar, em Lisboa.
A ministra salientou que o objetivo "é claro": garantir "a igualdade de género na Defesa Nacional" e tornar as Forças Armadas "mais eficazes".
Na opinião da governante, ajustar a formação e treino, capacidades e composição das forças a esta realidade não torna as missões menos eficazes, "pelo contrário".
"Vemos a importância desta integração da dimensão de género no Afeganistão, no Sahel, na Colômbia e vemo-la também na guerra da Ucrânia. Como todas as operações militares, os seus efeitos fazem-se sentir de forma diferenciada em mulheres, homens e crianças", salientou, acrescentando que "dos quase 15 milhões de pessoas deslocadas, 90% são mulheres e crianças" e existem "evidências crescentes de que a violência sexual está a ser usada como tática de guerra".
Por outro lado, destacou, "as mulheres ucranianas estão também na linha da frente, servindo nas Forças Armadas como voluntárias e organizações da sociedade civil lideradas por mulheres apoiam continuamente o esforço de guerra".
"A integração da perspetiva de género por parte dos nossos adversários, nas suas táticas híbridas, sejam atividades cibernéticas ou campanhas de desinformação para instalar o medo, a confusão e a desconfiança entre as populações, tem sido evidente", acrescentou.
Ao nível das políticas do Ministério da Defesa, Helena Carreiras afirmou que a dimensão de género irá ser incluída no processo de revisão do Conceito Estratégico de Defesa Nacional, "à semelhança daquilo que já foi feito pela UE na sua Bússola Estratégica e daquilo que está a ser feito pela NATO relativamente ao seu novo Conceito Estratégico, que será aprovado na próxima semana, em Madrid".
Helena Carreiras adiantou ainda que se encontra em desenvolvimento um estudo sobre o recrutamento nas Forças Armadas, "cujo objetivo é permitir uma reflexão sobre os constrangimentos ao recrutamento" e foi ainda iniciada a revisão do Plano Setorial da Defesa Nacional para a Igualdade, "que deverá estar concluída no final do próximo mês".
Momentos antes, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), almirante António Silva Ribeiro, considerou que este é um tema "de grande relevância para as Forças Armadas"
"Os debates sobre a perspetiva de género nas operações militares têm assentado num equívoco, não raramente baseado no preconceito, considerando-a apenas relacionada com a igualdade entre militares femininos e masculinos. Esta visão parcelar é errada e prejudicial à eficácia operacional das Forças Armadas", afirmou.
De acordo com o almirante, as Forças Armadas "continuarão a implementar medidas no sentido de integrar de forma sistemática, abrangente e a todos os níveis a perspetiva de género nas operações militares, capitalizando a experiência acumulada nos últimos 30 anos que confirmou que as mulheres são de importância inestimável para a eficiência e eficácia dos desempenhos, constituindo-se como promotoras de uma sociedade igualitária e equitativa".
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