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Observatório europeu: Desinformação na UE está “contida” mas plataformas podiam fazer mais

epaselect epa10243035 A woman checks her phone next to a screen showing social media icons, in Istanbul, Turkey, 14 October 2022. Turkey's Parliament on 13 October approved a new law proposed by President Recep Tayyip Erdogan that could sentence journalists and social media users to up to three years in prison on charges of spreading disinformation. The law reads that those who spread false information online about Turkey's security in order to 'create fear and disturb public order' can face a prison sentence of up to three years.  EPA/SEDAT SUNA

Bruxelas, 18 mai 2024 (Lusa) – A ameaça da desinformação “está contida” nos países da União Europeia (UE), considerou um dos coordenadores de programa que a monitoriza e combate, mas falta vontade e abertura das principais plataformas digitais para debelar o problema.

“De momento, o nível de ameaça está relativamente contida, mas há certos tópicos, que são claramente catalisadores para muitas campanhas [eleitorais] nacionais, e com a perspetiva das eleições europeias, há tendência para que aumente a desinformação”, disse à Lusa Paolo Cesarini, diretor do programa do Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais (EDMO, na sigla inglesa).

O Fórum Económico Mundial considerou a desinformação como uma das principais ameaças globais para 2024 no relatório que publicou no início do ano.

Paolo Cesarini revelou que o EDMO está a fazer uma monitorização diária e, “apesar de o nível de alertar continuar contido, houve um aumento em certas narrativas contra imigrantes e minorias LGBTQIA+, e há um pico claro em 'informações' sobre a posição do Ocidente em relação à Ucrânia e à guerra de agressão da Rússia na Ucrânia”.

Para o investigador do Instituto Universitário Europeu, não há dúvidas quanto à origem destas narrativas: “Intercetámos atividades organizadas alimentadas pela influência do Kremlin”, assegurou.

Há menos de um mês, o primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo, e o homólogo da República Checa, Petr Fiala, denunciaram à Comissão Europeia que Moscovo estava a tentar interferir com o processo eleitoral que vai realizar-se nos 27 Estados-membros da UE entre 06 e 09 de junho.

A plataforma Pravda foi a responsável identificada pelo EDMO como uma disseminadora de desinformação em vários países do bloco comunitário, mas ser desmascarada não a fez recuar.

“Em vez de se dissuadir pela identificação, até por uma agência de secretas, esta plataforma continuou sistematicamente a disseminar narrativas para influenciar o debate em relação à Ucrânia e a posição da UE em relação ao conflito”, revelou.

“Esta rede de 'copycat' está a crescer pela Europa […], mas se olharmos para os números de seguidores e interações, continuam baixos, por isso o nível de alerta ainda é contido”, sustentou.

Contudo, “não pode haver leviandade”, já que há uma clara “multiplicação dos sinais e a intensificação das operações”.

Nos últimos anos, o trabalho dos chamados “verificadores de factos” aumentou e está mais sofisticado – o EDMO agrega projetos deste tipo de vários países da UE para que a rede seja o mais completa e transversal possível -, mas Paolo Cesarini lamenta que nas redações ainda sejam “apenas uma secção” e não haja uma integração no trabalho jornalístico diário.

Questionado sobre o que é possível esperar para a campanha para as eleições para o Parlamento Europeu, o investigador reconheceu que é impossível fazer uma previsão.

Os “verificadores de factos” podem estar mais bem preparados do que nas últimas eleições europeias, há cinco anos, mas a desinformação está mais sofisticada e agora há “inteligência artificial barata” que pode gerar imagens e vídeos falsos cada vez mais difíceis de detetar.

E o contexto geopolítico “está mais lamacento” e é terreno fértil para a propagação da desinformação.

A Comissão Europeia aprovou um Regulamento dos Serviços Digitais da UE que visou as principais plataformas digitais, como a Meta, detentora do Facebook e do Instagram, ou o X.

“A Comissão já mostrou um pouco os dentes com o Regulamento dos Serviços Digitais e a ação contra a Meta no dia 30 de abril demonstra isso, mas uma das queixas que há contra a Meta é que está a bloquear acesso a 'verificadores de factos', organizações não-governamentais, investigadores, encerrando o CrowdTangle [plataforma que permite monitorização outros websites e que é muito utilizada para combater a desinformação]”, criticou o académico.

“Houve uma degradação no nível de transparência” das redes sociais, lamentou Paolo Cesarini, admitindo que deste modo a desinformação pode crescer sem controlo, pedindo, por isso, uma reavaliação das diretrizes por parte destas plataformas.

O EDMO produz relatórios diários sobre a disseminação de desinformação nos Estados-membros da UE e as ações feitas para combatê-la.

O último relatório disponível, de quinta-feira, revela que circula pelas plataformas na Alemanha uma alegada história sobre a invalidade dos boletins de voto para as eleições europeias por supostas irregularidades nos boletins.

“Em Portugal, por exemplo, circulou uma imagem adulterada que pretendia mostrar Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, a ser presa no Parlamento Europeu”, indica o relatório.

 

André Campos Ferrão