PONTOS ESSENCIAIS: Campanhas de desinformação em Portugal são sobretudo importadas
Lisboa, 21 jun 2023 (Lusa) - As campanhas de desinformação estudadas em Portugal são, sobretudo, importadas, como o caso da covid-19 e a guerra na Ucrânia, conclui o estudo do consórcio do Iberifier, que analisou também as últimas legislativas portuguesas.
Estes são três casos de estudo portugueses analisados no relatório "Análise do impacto da desinformação na política, economia, sociedade e questões de segurança, modelos de governança e boas práticas: o caso de Espanha e Portugal", elaborado pelo Observatório Ibérico de Media Digitais e da Desinformação, Iberifier, da qual a Lusa é parceira, e que hoje é divulgado.
+++ As 'fake news´ e a pandemia +++
"As campanhas de desinformação estudadas em Portugal replicam modelos estrangeiros" e, no caso da que foi difundida durante a pandemia, "destacam-se dois objetivos: descredibilizar as decisões políticas e desestabilizar socialmente".
As 'fake news' e a desinformação relacionadas com a covid-19 revelaram a importância das redes sociais "de uso privado", nomeadamente do WhatsApp, que pertence à dona do Facebook.
"Os mais de 1.600 artigos e verificações sobre a doença covid-19 analisados exploraram quatro tópicos: teorias da conspiração; curas e tratamentos, perigos e ineficácia das vacinas; questões relacionadas com decisões das autoridades de saúde", lê-se no documento.
+++ 5G e as teorias da conspiração +++
No que respeita às teorias da conspiração, destaca-se a desinformação sobre a quinta geração móvel (5G), em foco entre 01 de janeiro e 29 de abril de 2020, tendo sido detetadas 68.576 interações relacionadas com o tema na rede social Facebook em Portugal.
"Um dos grupos criados sobre a covid-19 no Facebook reuniu em três dias 624 mil membros" e foi dentro desses grupos criados na altura da pandemia que se disseminou desinformação, é revelado.
Entre fevereiro de 2020 e 15 de julho de 2022, por exemplo, foram produzidos e publicados 1.037 artigos de esclarecimentos pelo Polígrafo relacionados com a covid-19.
Em alguns casos, misturaram-se covid e 5G nas mesmas teorias de conspiração, identificando-se, nas redes sociais, frases como "o vírus não é causa de doença, mas a 5G [sim]".
+++ "Pouca pegada de desinformação" nas eleições +++
Sobre as legislativas portuguesas de 2022, "foi detetada pouca pegada de desinformação da parte do Governo e da oposição durante a comunicação realizada nas campanhas eleitorais".
Segundo um conjunto de artigos e 'fact-checks' elaborados pelo Polígrafo, entre 01 e 30 de janeiro, a pegada da desinformação foi curta, devendo-se tal ao facto de os políticos "já estarem a ter um cuidado especial para não produzir declarações sem suporte factual devido à rapidez com que os seus oponentes, "os 'media' e os próprios cidadãos desconstroem possíveis falsidades".
+++ Manipulação política centrada na corrupção em Portugal +++
Se em 2019 se concluiu que a desinformação nos resultados das eleições é reduzida em Portugal, há indícios de a desinformação poder ter influência no clima político "e alimentar movimentos extremistas".
Ao contrário da tendência europeia, "é a corrupção que motiva mais campanhas e ações de manipulação e não a imigração", lê-se no texto.
No estudo citam-se dois casos com dois protagonistas políticos, António Costa (PS) e Catarina Martins (Bloco), em que se mostra como os 'media' "podem ajudar a desconstruir mentiras, mas também contribuem para criar incidentes".
O primeiro caso foi o de António Costa, "acusado na rua" durante a campanha eleitoral, de ter ido de férias durante os fogos de junho de 2017, o que já tinha sido "desmontado" antes, mas que se tornou "um facto político".
O segundo foi o de Catarina Martins, acusada, mas redes sociais, de usar um relógio de 20 milhões de euros, o que era falso.
+++ Guerra na Ucrânia e a invasão pela Rússia +++
"A manipulação de informação relacionada com a invasão da Ucrânia atravessou as fronteiras das redes sociais, com as estações nacionais a exibirem imagens do conflito na Síria com imagens em 3D de 'videogames' como se se tratasse de imagens reais" do conflito.
Entre 20 de fevereiro e 15 de julho de 2022, o Polígrafo fez 238 artigos e verificações, "dos quais 40 nacionais e 198 de proveniência estrangeira", confirmando-se que "a grande fonte de conteúdos informativos é importada muitas vezes com tradução ou adaptação".
Há dois pontos que se destacam: "A origem dos preços atribuída ao conflito militar e a posição do Partido Comunista Português [PCP], especialmente a terminologia que se defendeu, se era invasão ou intervenção militar."
ALU/NS // CC
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