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Travar ação do extremista Al-Shebab exige travar fluxo de receitas – analista

Lisboa, 29 mar 2023 (Lusa) -- O Centro de Estudos Estratégicos de África considera fundamental controlar os fluxos de receitas do grupo extremista Al-Shebab, que chegam a 40% das arrecadadas pelo Governo, para travar a sua ação na Somália e expansão na região.


O Al-Shebad "continua a ser uma ameaça firme e desestabilizadora na Somália", considera a especialista em organizações extremistas violentas e fluxos financeiros ilícitos Wendy Williams, responsável pela análise a que a Lusa teve hoje acesso.


No ano passado, o grupo extremista esteve associado a 2.553 ataques ou eventos violentos e 6.225 vítimas mortais, o que representa "quase o dobro do número de incidentes desde 2019" enquanto as mortes envolvendo o Al-Shebab "aumentaram 120% durante este período", refere.


Isto, sublinha no trabalho divulgado pelo Centro esta semana, apesar das conquistas das forças governamentais nos últimos meses, em que o Governo anunciou ter recuperado nos últimos seis meses quase 70 cidades.


E o embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) na Somália anunciou hoje que o exército somali, apoiado por aliados, recuperou, desde agosto passado, um terço dos territórios ocupados pelo grupo terrorista ligada à Al-Qaida.


Esta resistência do grupo terrorista deve-se em muito à "receita estimada em 100 milhões de dólares (mais de 92 milhões de euros) que gera anualmente. Em comparação, o Governo Federal da Somália obtém aproximadamente 250 milhões de dólares (cerca de 230 milhões de euros em receita anual", sublinha a especialista em fluxos financeiros ilícitos.


Estas receitas permitem ao Al-Shebab sustentar "5.000 a 10.000 combatentes bem armados, bem como uma rede de agentes na folha de pagamento do grupo", além de presença nos meios de comunicação social e espaços de informação para "impulsionar a sua ideologia, moldar a política nacional e estatal e espalhar desinformação".


Para obter essas receitas, o grupo terrorista vem aprimorando "um sistema altamente centralizado de extorsão nos portos de entrada e estradas há quase duas décadas", assegura a responsável pela análise, principalmente no território que controla nas regiões sul e centro-sul do país.


O dinheiro vem através da extorsão -- desde estradas com portagem a impostos sobre a propriedade -- "com base na sua cultivada reputação de omnipresença e intimidação", e da corrupção, incluindo de membros de agências governamentais, conseguindo por exemplo comprar os manifestos -- listas de bens - de carga portuárias para extorquir companhias de navegação à chegada.


"O desmantelamento da infraestrutura geradora de receitas do Al-Shebab é, portanto, vital para minar a capacidade do grupo", afirma esta especialista do Centro de Estudos Estratégicos de África, instituição académica dentro do Departamento de Defesa dos EUA estabelecida para o estudo de questões de segurança relacionadas com aquele continente.


Para isso, é preciso que o Governo deixe de ser "repleto de clientelismo e lógica de clãs, que o expõe à infiltração e sabotagem", e que haja maior controlo de transações financeiras, nomadamente através dos telefones móveis, o que as autoridades estão já a desenvolver, reconhece a especialista.


As experiências e esforços de outros países para controlar o branqueamento de capitais podem também ser úteis à Somália, recomenda, apontando por exemplo que na Líbia, um programa de rádio na cidade de Zuwara sensibilizou e gerou uma resposta positiva por parte do público, sobre o impacto nocivo do crime organizado e como as autoridades policiais, a sociedade civil e os líderes religiosos poderiam unir forças para combatê-lo.



ANP // LFS


Lusa/fim