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Desinformação russa sem “muito espaço” para avançar em Portugal

epa09872253 A picture taken during a visit to Bucha organized by Kyiv authorities shows a general view of a street with destroyed Russian military machinery in the recaptured by the Ukrainian army Bucha city near Kyiv, Ukraine, 05 April 2022. Russian troops entered Ukraine on 24 February resulting in fighting and destruction in the country, and triggering a series of severe economic sanctions on Russia by Western countries.  EPA/SERGEY DOLZHENKO

Lisboa, 16 mar 2022 (Lusa) - O investigador do CIES-ISCTE Miguel Crespo afirma Lusa que "é difícil perceber" quem está a ganhar a guerra da desinformação no conflito Ucrânia-Rússia, mas em Portugal não há "muito espaço" para as 'fake news' russas avançarem.

A guerra não se faz apenas no terreno, mas utiliza todos os meios, incluindo a desinformação, que se propaga 'à boleia' das redes sociais.

Questionado pela Lusa sobre quem está a ganhar neste momento na guerra da desinformação, Miguel Crespo diz que em Portugal "é difícil de perceber".

"Não tenho dados neste momento e aquilo que temos é a perceção", acrescenta, referindo que a desinformação para se propagar tem que ter "o caminho aberto para isso".

Ou seja, há esta "pressão tão grande -- não estou a dizer que está errada --, mas tão grande de 'estamos todos do lado da Ucrânia'", aponta. A isso junta-se o facto de não haver "grande necessidade, nem o Estado ucraniano tem neste momento possibilidade de trabalhar muito no campo de desinformação", já que as suas prioridades são outras", além de que "não precisam da desinformação para criar, digamos, apoio para o seu lado porque neste momento está conquistado", argumenta.

"Como há muito isto, há muito pouco espaço para que a desinformação pró-russa consiga crescer e qualquer pequena tentativa de pôr em causa este consenso pró-ucraniano e anti-Rússia" será "logo abafado ou atacado pela multidão das redes sociais", considera.

Em suma, "não há neste momento, no caso português, muito espaço para a desinformação russa avançar e não há necessidade de haver muita desinformação pró-Ucrânia".

Pelo volume, "vemos mais desinformação pró-ucraniana, que não tem nenhuma intenção de manipulação, mas apenas porque as pessoas estão pró-Ucrânia", pelo que "partilham mais coisas" a favor de Kiev "mesmo sem verificar se elas são verdade ou não".

Portanto, "este é um momento estranho desse ponto de vista porque não há um grande problema de desinformação", salienta Miguel Crespo.

O investigador classifica de "particularmente interessante" o facto de o Governo ucraniano e o seu Presidente, Volodymir Zelensky, estarem a "mostrar como se utilizam as redes sociais", estas novas ferramentas de comunicação para "mobilizar um país e para ganhar uma guerra".

Essa "é provavelmente a grande surpresa desta guerra e acho que o senhor Putin e os seus estrategas também se esqueceram deste detalhe", aponta.

Zelensky "sabe, todos sabem usar as redes sociais, eles interpelam, passam mensagens de forma clara, interpelam diretamente a NATO, a União Europeia, o Elon Musk, portanto, estão a usar as redes sociais como devem ser usadas num cenário de guerra, e bem, com excelentes resultados", diz Miguel Crespo.

Em sentido inverso, "a Rússia parece que está ainda agarrada aos manuais do século XX, ou seja, a Rússia neste momento não tem sequer uma comunicação externa que faça sentido, tudo aquilo que eles estão a fazer é limitar o acesso às comunicações como se fazia no século XX para que as pessoas não recebam informação contrária à oficial".

E a desinformação utilizada é a "típica desinformação do Estado durante uma guerra, que é passar apenas a informação que lhes é positiva e criar eufemismos" como o de chamar uma operação especial militar para não usar a palavra guerra.

"Desse ponto de vista também, em termos de comunicação, temos o século XXI de um lado contra o século XX do outro e, se calhar, isso é o que vamos ver lá mais para a frente, é que vai fazer a diferença", remata o investigador e jornalista.

ALU // CSJ

Lusa/Fim